Imigrantes encontram cada vez mais dificuldades para se inserir no mercado de trabalho.

A situação do imigrante que busca emprego é um pouco melhor para os refugiados, que saem de seus países em razão de alguma violação de direitos. José Roberto Mariano, coordenador da Casa de Passagem Terra Nova, diz que ainda não sente resistência para inserir esses estrangeiros no mercado de trabalho.

“A condição de refúgio traz o amparo da instituição.” Na Terra Nova, os refugiados fazem cursos técnicos e aulas de português. Ainda assim, a angolana Nsukaa Paulina, 45, refugiada política que chegou ao Brasil em maio, não conseguiu emprego mesmo após várias entrevistas.

Para a professora Zilda Iokoi, do Diversitas (Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos), da USP, a ideia do Brasil como acolhedor para imigrantes -independentemente do motivo que os tenha levado a imigrar- é falsa. “Só se cria uma aura em torno dos imigrantes se eles têm ascensão social.”

Esperança

Formada em sociologia e antropologia e com pós-gradução em marketing, a camaronesa Nyukang Mirabel Bejacha, 33, acompanhou o avanço da crise nos 12 meses em que passou a viver no Brasil.

Na primeira entrevista que deu à Folha, em outubro de 2014, estava na fila para uma entrevista de emprego.

Naquele dia, havia dezenas de empregadores interessados na mão de obra estrangeira e Mirabel foi trabalhar em um buffet em Santo André, na Grande São Paulo. Pegou suas malas e foi morar no restaurante.

Demitiu-se dois meses depois porque o pagamento era menor do que o combinado.

Desde então, foi vendedora de comida na rua, doméstica e hoje faz bicos no salão de beleza de uma africana.

Os filhos ficaram com a mãe, em Camarões. O marido, que está em outro país da África, quer que ela volte. Conseguiu um bom trabalho como construtor, enquanto Mirabel ganha R$ 400 por mês fazendo penteados.

O valor só dá para o aluguel e as contas. “O Brasil é difícil. Eu queria estudar, mas não consigo.” Mesmo decepcionada, espera que a recessão seja passageira. “Tenho esperança. Todo país tem um período de crise, muitos estão passando por isso.”

Abatimento

No Brasil há um ano e dois meses, o haitiano Vilner Guervil, 44, foi demitido em setembro. Guervil foi uma das pessoas atingidas por tiros no início de agosto, enquanto estava em um cyber café, na região central de São Paulo, quando um atirador em um carro atacou imigrantes.

Abatido, ele, que continua com a bala alojada no quadril, conta que a soma da aversão a estrangeiros com a falta de oportunidades profissionais alimenta a vontade de deixar o país. “Quero ir para a Guiana Francesa ou qualquer outro local”, diz.

Ingrid Fagundez e Vinícius Pereira 

(Folha de S.P – 11-10-2015)