Agarrada a uma bandeira da Bolívia, a webdesigner boliviana Jobana Moya, 31, gritava palavras de ordem em uma esquina da Rua Coimbra, região da zona leste de São Paulo.

Tanto ela quanto as outras dezenas de imigrantes latino-americanos que estavam aglomerados naquele ponto de comércio e moradia de bolivianos, tinham um propósito em comum: votar.

“Se você não tem direito político, você não existe”, declarou a chilena que também é voluntária na ONG Convergência das Culturas.

Com o lema “Aqui vivo, aqui voto”, os imigrantes colocaram na urna, no dia 29/9, de forma simbólica, a cédula com o nome do candidato a prefeito de São Paulo que melhor lhes representa. O ato foi organizado em conjunto por 15 instituições sociais.

Segundo Cleyton Wenceslau Borges, 35, que trabalha no departamento jurídico do CDHIC (Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante), o objetivo do protesto foi chamar a atenção para um debate político que leva em conta as demandas dos imigrantes.

A Constituição brasileira só dá direito a voto a pessoas que aceitem se naturalizar. “Esse processo é delicado para os imigrantes, pois, em alguns casos, é preciso renunciar a cidadania no país de origem”, diz Paulo Illes, 37, coordenador do CDHIC.

Para ele, o grupo poderia representar uma significativa força política.  “Os imigrantes têm um grande potencial eleitoral, pois no Brasil eles somam mais de 1,6 milhões de pessoas, levando-se em conta apenas os que estão regularizados”, explicou.

No final de 2011, os imigrantes marcharam da Praça da República até a Praça da Sé reivindicando o direito ao voto. Neste ano, a manifestação está prevista para ocorrer no dia 2/12

“Nós escolhemos o Brasil para viver; amamos este país e enfrentamos os mesmos problemas que os brasileiros”, concluiu Moya.

De acordo com Illes, o Brasil é o único país da América do Sul que não concede o direito ao voto para imigrantes.

O Chile, na visão do coordenador, é o melhor exemplo da região. Assim que o imigrante se torna residente, o governo automaticamente o concede o direito de participar das eleições, sem a necessidade de apresentar o título de eleitor.

Na Argentina, os estrangeiros podem votar nas eleições municipais e provinciais e, no Uruguai, é possível votar a nível presidencial, caso o imigrante tenha 15 anos de permanência no país, explicou Illes.

Thiago Baltazar

(Mural – 24/10/2012)