
“Cada pessoa carrega consigo uma história e um passado. Histórias que precisam ser contadas. E passados que tiveram que caber em uma mala ou muitas vezes apenas nas próprias mãos.” Esse questionamento serve de mote para a série de TV Pertences: Histórias do Refúgio, dirigida por Larissa Teixeira e Alê Borges. A produção foca nos relatos de pessoas que deixaram seus países em meio a conflitos ou perseguições, e nos pertences que precisaram caber em uma mala. O projeto foi idealizado em 2013, durante um período crítico da guerra na Síria, após os diretores se questionarem: “se tivéssemos que sair agora, o que levaríamos fora os bichos?”. Dessa reflexão, o foco da série é a compreensão de como as narrativas de refúgio se manifestam por meio dos chamados “objetos de memória”.
Com 13 episódios, Pertences apresenta 26 histórias de pessoas e famílias. O objetivo, segundo os diretores, é se afastar do estereótipo restrito da “pessoa refugiada”, e priorizar a diversidade de realidades dado o contexto brasileiro. Essa diversidade é atravessada por questões raciais, de gênero e também geracionais. Para alcançar uma amplitude de relatos, a produção contatou instituições como Cáritas e Missão da Paz, além de ter realizado um levantamento de outras entidades focadas no acolhimento.
O elenco de entrevistados é diversificado e, entre os vários perfis abordados, encontram-se: um chileno que fugiu durante as ditaduras na América Latina; uma senhora chinesa que fez um longo trajeto até Campinas (SP); e uma família venezuelana. Neste último caso, o objeto de memória escolhido são dreads – o cabelo que um deles cultivava por ser rastafari, mas que precisou cortar para se inserir no mercado de trabalho brasileiro. Outros exemplos citados pelos diretores são: uma família palestina, cuja filha trouxe um casal de cães; uma família venezuelana que dedicou uma das três malas a objetos de religiosidade da Santeria; e uma mãe e filha marroquinas que buscaram refúgio devido a questões de gênero, e seus objetos mais simbólicos eram medalhas de boxe.
Um dos casos marcantes é o de Hortense, advogada e ativista do Congo, que guarda sua beca e diploma. Sua formação em Direito visava apoiar mulheres do leste do Congo, vítimas de violências sexuais. Em meio à atuação política e humanitária, ela e seu esposo, também advogado, questionaram publicamente a transparência das eleições de 2011, após Joseph Kabila ser reconhecido como vencedor. Em retaliação, Hortense foi presa violentamente e sofreu tortura. Libertada sob pressão internacional, ela e seu bebê fugiram para o Brasil em busca de refúgio.

Como a produção adotou uma metodologia de filmagem pensada para criar uma relação íntima na casa dos entrevistados, as conversas primárias foram feitas apenas em áudio. Os participantes também tiveram um papel ativo na definição do que seria filmado, o que incluiu caminhadas na cidade, cenas externas que contextualizam a vida no Brasil e cenas dentro de casa que suscitam as memórias. Segundo os realizadores, essa abordagem colaborativa evitou o “extrativismo de tragédia”, tratou os entrevistados como protagonistas de seus relatos e dedicou o tempo necessário para cada história.
Os diretores afirmam que, apesar de o Brasil ter uma das legislações de refúgio mais positivas, há dificuldades práticas, como no acolhimento de afegãos. Um dos principais objetivos da série é, portanto, a sua utilização como espaço de educação: exibi-la a agentes públicos e promover conscientização e desestigmatização sobre o refúgio. Desse modo, a produção também busca ser uma campanha de impacto com foco em transformações cotidianas.*A série encontra-se em processo de finalização, e a previsão é que seja lançada e exibida no Canal Curta! em 2025.

Reportagem por: oestrangeiro

Olá! Tudo bem?
Interessantes essa série Pertences. Aguardando os próximos capítulos.
Obrigado pelos esclarecimentos!
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