A comunidade caboverdiana no Rio de Janeiro: memória híbrida, identidade e diferença
O presente trabalho aborda a recriação da memória e identidade dos imigrantes caboverdianos no Rio de Janeiro. Apresenta a transmissão de alguns hábitos e costumes do país de origem, na perspectiva de uma memória híbrida, noção proposta a partir do conceito glissantiano de cultura híbrida. A pesquisa discute a construção de uma memória híbrida em termos teóricos e a partir de depoimentos orais colhidos na pesquisa de campo que serviu de base para entendermos as trajetórias, a integração, os modos de vida e a permanente recriação da memória que se faz na comunidade do Rio de Janeiro. Também analisa os riscos de uma memória híbrida dentro dos limites oferecidos pela pesquisa participante.
A análise das entrevistas e a observação de campo evidenciam que, embora exista uma perda de laços comunicativos com Cabo Verde, a comunidade local recria alguns hábitos e costumes da antiga terra mesclando-os aos da cultura brasileira, produzindo, assim, um novo modo de vida, ou seja, uma nova forma de perceber-se e reconhecer-se como caboverdiano.
Convém notar que, devido à diáspora8, a imigração caboverdiana tornou-se um tema importante não apenas para os cientistas sociais, mas também para os próprios caboverdianos que se preocupam com a manutenção de sua identidade. Assim, tornou-se interesse do Estado, representado pelo Instituto das Comunidades9, conhecer mais profundamente a diáspora caboverdiana e os modos de vida dos imigrantes, tendo em conta os problemas que acontecem com os descendentes em todos os países nos quais a imigração se deu. Enquanto os primeiros imigrantes, aqueles que saíram de Cabo Verde à procura de uma vida melhor, mantêm uma forte ligação com o país de origem, os descendentes começam a distanciar-se da cultura caboverdiana, devido à intensa miscigenação cultural. Por este motivo, a preocupação com a manutenção dos laços da descendência com Cabo Verde tornou-se uma política do Estado. Tanto que o Instituto das Comunidades atribuiu pela primeira vez em 2003 o prêmio “Olhares de Descendências” a pesquisadores com trabalhos na área social sobre as “Gerações Saídas da Descendência Caboverdiana na Diáspora”.
Artur Monteiro Bento