A EXPERIÊNCIA DE TERAPEUTAS NA ESCUTA DE PESSOAS FORÇADAS A MIGRAR

A experiência de terapeutas na escuta de pessoas forçadas a migrar. Contribuições para a psicossociologia de Comunidades.

Este trabalho traz reflexões do campo da psicologia clínica para o da psicossociologia. A clínica pode ser considerada como ponto de tensão e de possibilidades do fenômeno social e dos traumas psicológicos das migrações forçadas. Nela convergem narrativas individuais dos efeitos coletivos que expõe questões éticas, sociais e políticas. As percepções dos terapeutas que atendem estas populações sobre os efeitos do fenômeno da migração em geral, e do refúgio, em específico são contribuições de um fazer que não se substitui mas que assume a ausência de políticas de estado e de governo. Desse modo tomamos esse território terapêutico enquanto articulador e multiplicador da mobilidade humana. Nele são seus arranjos que tornam possível as intervenções. Os relatos dos terapeutas foram elaborados de acordo com o método fenomenológico-hermenêutico que permite revelar detalhes sobre como eles elaboram suas interpretações e atribuem sentidos à sua prática. Trata-se de um encontro que produz efeitos na dupla terapeuta-refugiado, como também organiza algo que opera no coletivo. Ele produz conhecimento, que alimenta reflexões no campo da psicologia e define possibilidades e iniciativas que tem efeitos nas diversas redes comunitárias. Para descrever como eles entendem a experiência e como esta os transforma fiz uso da teoria da Aprendizagem Transformativa. Ela se concentra principalmente no processo de mudança individual e está incorporada na ideia do pensamento crítico que as relações sociais provocam. Ainda com base no Construcionismo social: reforçamos a perspectiva de que a experiência dos terapeutas sobre sua prática clínica é socialmente construída. Neste trabalho analisamos as experiências de profissionais que atuam no Brasil e nos Estados Unidos. Produzimos reflexões que fazem referência a um momento histórico em que assistimos a deslocamentos forçados maciços e no qual a saúde mental precisa ser prioridade. Nele o cenário de acolhimento que cada país é capaz de oferecer é diferente e produz um tipo de experiência específica. O que é vivido por este migrante se reflete no relato clínico e convoca o terapeuta em um lugar para além da terapêutica. Nesta relação a língua está posta e representa uma dinâmica com a qual ‘il faut faire avec’. Os terapeutas implicados neste campo têm seu interesse fundado numa certa experiência a de estar ou ter estado estrangeiro. Esta permite delimitar um território que contempla sujeitos que compartilham algo entre si, o lugar de uma experiência existencial que lhe permite reconhecer uma outra alteridade. Haveria necessidade de um certo preparo para todos aqueles que intervêm nele e que didaticamente pode ser organizado em binômios que organizam a intervenção e propiciam este deslocamento psíquico e simbólico. Na reconstituição dessas experiências clínicas se desenha o interlocutor que é recebido nesse espaço. O que dele aparece é a produção do discurso do terapeuta no qual se revela também a construção deste outro.

Suzana Duarte Santos Mallard