Imigração haitiana para o Brasil – a relação entre trabalho e processos migratórios
A entrada de haitianos no Brasil se tornou elemento central das discussões sobre o tema da imigração para o país. Desde o início da segunda metade do século XX, com o encerramento massivo da entrada de europeus, o assunto não recebia destaque. O que se discutia, no final daquele século, era a emigração de brasileiros para países como Japão, Estados Unidos, Itália, Espanha e Portugal, predominantemente. Isso não quer dizer que não houve imigração para o Brasil, pelo contrário, o fluxo dessa natureza foi alimentado por nacionais dos países vizinhos, como Bolívia e Peru. O que chamou atenção em relação aos haitianos foi o fato de ser o primeiro movimento migratório desse país caribenho para o Brasil, somando-se a isso o fato de estar circunscrito a um momento de catástrofe pelo qual o Haiti passou em 2010, quando um terremoto provocou perdas humanas e danos materiais na capital do país, Porto Príncipe.
O terremoto se tornou, desde o início, o argumento explicativo do governo brasileiro para a migração haitiana para o país e encontrou eco no reforço dado pelas agências de comunicação por meio de jornais, revistas e programas televisivos, além de sítios na internet. Entrando pela região Norte do país, pelos estados do Acre e Amazonas, as primeiras cidades a receber os primeiros haitianos no que diz respeito a trabalho e moradia foram Porto Velho, capital de Rondônia e Manaus, capital amazonense. Essas duas cidades se tornaram local de destino de milhares de haitianos, fosse para permanecer por tempo indefinido, por curto tempo ou como rota de passagem para outras cidades do país, nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Diante desses acontecimentos, demos início a uma pesquisa com a intenção de encontrarmos explicações satisfatórias, para esse fluxo migratório.
Dessa forma, esta pesquisa tem como objetivo geral entender o recente fluxo migratório de haitianos para o Brasil e sua relação com o processo de acumulação capitalista. O lugar privilegiado de nossa pesquisa foi a cidade de Porto Velho, no entanto foi necessário nos deslocarmos para outras localidades – como, por exemplo, Brasileia, no estado do Acre – a fim de obtermos uma visão mais ampla dos acontecimentos.
Optamos por trabalhar com o conceito de acumulação capitalista a partir de Karl Marx, enfocando a influência do capital sobre os processos migratórios. Não ignoramos os demais aspectos envolvidos da migração. Para isso, a organização das ideias foi pensada e estruturada de maneira que as partes do trabalho apresente um quadro geral e, ao mesmo tempo, dialoguem com os dois objetos em comum, a migração e o trabalho.
Geraldo Castro Cotinguiba