ARMÊNIOS EM SÃO PAULO: MOBILIZAÇÃO E GENOCÍDIO

Armênios em São Paulo: mobilização e genocídio

As leituras sobre o massacre, o genocídio que contabilizou mais de 1.500.000 pessoas mortas de diversas formas, ocorrido em meio a Guerra de 1914 e para além desta, além de relatar os horrores que foram a mobilização geral, as
deportações, o extermínio planificado pelo governo proto-fascista dos Jovens Turcos; essas leituras da assim chamada armenidade costumam ser simplesmente positivas à cultura armênia, à identidade e à nação trans-
histórica e seu cristianismo pioneiro.

Intentamos apontar para a construção identitária da Armênia, como um discurso que aglutinou “elementos culturais armênios” quando a Armênia não existia, sendo, portanto, uma invenção típica da sociedade produtora de mercadorias, que enxerga seus nexos sociais, a mediação pelo trabalho abstrato, nos períodos anteriores e distintos do seu tempo. Fazer apologia a qualquer uma das instituições do nacionalismo e as respectivas categorias do
pensamento moderno seria um equívoco. Se levado ao seu limite, seria fascismo, ou ainda, como diria Hobsbawn (1990: 22): “o nacionalismo requer muita crença naquilo que, obviamente, não é assim”.
De todo modo, a ideia não é ignorar a luta da Causa Armênia, a luta pelo reconhecimento do genocídio, mesmo considerando-a insuficiente frente ao que foi o genocídio, ao fato do Rio Eufrates ter sido tingindo de vermelho
durante os dias tensos marcados pelas deportações através dos desertos da Síria.

Lidar com uma pesquisa que envolve violência de maneira tão explícita e absurda tem implicações bastante sérias. Uma delas é não cair na armadilha de pensar que esse foi um momento realmente violento, pensando de maneira
dualista, em comparação com o tédio que essa vida urbana e democrática aparenta a um universitário branco classe média. Obviamente, as diferenças são enormes, o tempo é outro, mas a relação social do capital em momentos
em que não há guerra declarada é sim muito violenta. Genocídio é uma realidade para o preto pobre periférico, no último dia 02 de outubro o massacre do Carandiru completou a antiga maioridade. Desde a troca de equivalentes
até um momento em que se planeja e executa um extermínio, as abstrações sociais se sobrepõem e naturalizam diversas formas de violência e dominação.

Pensar a história no sentido de buscar compreender a que tipo de dominação estamos sendo sujeitados; nesse sentido quem assume as personificações? Sobre que bases materiais estavam o decadente Império? Quem eram os armênios dentro Império, suas ocupações, que regiões do território ocupavam? Qual foi o papel do discurso científico através do chamado Darwinismo social para legitimar o extermínio étnico? Pensando nos armênios
mobilizados em São Paulo, em que condições chegam, escolheram o destino? No que se empregam? Quem os emprega? Qual papel da comunidade armênia já estabelecida na reprodução dos refugiados do genocídio? E a chamada “especialização funcional”? Essas e outras perguntas não foram respondidas, mas nortearam esse texto. Além do ódio ao processo de modernização!

Artur Attarian Cardoso Camarero

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