AS CONDIÇÕES SOCIAIS DA MEMÓRIA ENTRE IMIGRANTES UCRANIANOS

As condições sociais de produção das lembranças entre imigrantes ucranianos

A “memória” é um objeto de estudo que se encontra na interseção de diversas disciplinas: a filosofia, a psicologia, a psicanálise, a história, as neurociências, a sociologia e a antropologia interessam-se por ela devido a diferentes motivos e com diferentes objetivos. No entanto, uma tal riqueza de possibilidades é em geral acompanhada de uma imprecisão na definição do modo pelo qual se vai trabalhar um objeto tão arredio — visto que a própria definição do que se entende por ele em cada caso é problemática. As concepções e as questões definidas para o estudo da “memória” em cada um desses campos acadêmicos são muito diversas entre si. As múltiplas interações que decorrem dessa circulação de idéias colocam em diálogo temas e problemas distintos, criando uma nebulosa semântica e temática virtualmente inesgotável ao redor do assunto.

Desse modo, por um lado, é necessário buscar uma maior clareza na definição dos problemas de pesquisa sobre a “memória” dentro de cada área do conhecimento, empreendendo esforços para desenvolver conceitos e instrumentos mais precisos; por outro, é possível examinar de forma mais detida algumas questões relacionadas aos fenômenos empíricos usualmente enquadrados sob esta rubrica.

O presente artigo parte da discussão de um estudo clássico sobre a “memória” nas ciências sociais: as obras acerca da “memória coletiva” escritas por Maurice Halbwachs (1976 [1925], 1968 [1950]). Talvez devido a seu grande sucesso, diversos autores consideram que elas esgotaram sua capacidade de emprestar legibilidade aos fenômenos observados. Nosso objetivo é propor um enfoque para a pesquisa que, inspirado pelo pensamento deste autor, dele se delimita ao realizar a crítica dos instrumentos e dos objetivos por ele definidos. Para tanto, serão utilizadas como material empírico as lembranças produzidas por imigrantes camponeses de origem eslava — os “rutenos” ou “ucranianos” — acerca de sua vinda ao Brasil no final do século XIX.

O artigo inicia-se com um estudo crítico das idéias de Halbwachs sobre as relações entre “memória” e “sociedade”; após uma breve apresentação dos imigrantes ucranianos, explora relatos de sua imigração para encetar
uma discussão que envolve as condições sociais que infletiram a produção de suas lembranças; por fim, conclui-se com o exame de algumas implicações da análise aqui empreendida.

Paulo Renato Guérios

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