Diáspora africana no Ceará no século XXI: ressignificações identitárias de estudantes imigrantes
Esta produção acadêmica analisa a migração, presença e permanência de estudantes oriundos
de distintos países africanos para o Brasil, especificamente, na cidade de Fortaleza-CE, nos
processos que designo de “Diáspora Africana no Ceará no século XXI”. Esta Diáspora é fruto
da migração estudantil internacional de alunos de África que, se deslocam ao Brasil para
desenvolver formação universitária em instituições de ensino superior (IES) públicas e
privadas. Interessa-me compreender os processos de ressignificações identitárias nas
trajetórias e percursos desses estudantes nesta Diáspora, focando o seu cotidiano, a partir da
tríplice dimensão: ser negro, africano e imigrante “temporário”. Este estudo traz, como
aspecto inovador o fato de investigar, não apenas a realidade dos alunos africanos inseridos
em universidades públicas, auferindo bolsas de estudos, no âmbito de convênios, como o
Programa Estudantes Convênio – Graduação (PEC-G), Programa Estudante Convênio – Pós-
Graduação (PEC-PG) e outros acordos, mas adentrar, também, na realidade vivenciada pelo
amplo contingente de africanos matriculados em faculdades particulares, a dependerem da
ajuda económica de parentes e familiares residentes em África e ao redor do mundo. Este
grupo de estudantes, hoje majoritário, apresenta inserções precárias no contexto de Fortaleza,
enfrentando dificuldades econômico-financeiras, para garantir o pagamento de mensalidades
nas instituições universitárias privadas e manter a própria sobrevivência nesta metrópole.
Assim, este segmento de estudantes africanos tem que se envolver em trabalhos informais e
precarizados, considerados “irregulares” pelas autoridades brasileiras, sujeitos a violação de
direitos trabalhistas, com longas jornadas e baixos salários. Neste estudo sociológico exploro
distintas esferas da vida desses sujeitos nos percursos diaspóricos, quais sejam: cotidiano;
inserção no contexto universitário; trabalho; interações com organismos e instituições
públicas e privados no acesso a mercadorias e serviços; associativismo em agremiações
estudantis; utilização das tecnologias de informação e comunicação (TIC’s) e das redes
sociais virtuais na internet; processos de saúde e de adoecimento; conjuntura de violência
urbana e, mesmo, violência que culminam com a morte de estudantes africanos; formas de
lazer; processos de sociabilidade entre africanos e brasileiros; festas africanas e interações
afetivossexuais. O estudo revela como os estudantes oriundos de África são alvo de
preconceito e discriminação racial, por conta da cor da pele e da própria origem africana.
Neste processo analítico, trabalho como fio condutor, a ideia de que, nas trajetórias e
percursos diaspóricos, os estudantes africanos constituem múltiplos pertencimentos
identitários, forjados em África e no cotidiano no Brasil que, ora tendem à afirmação, ora
tendem à negação de africanidade e negritude. As identidades são ressignificadas,
particularmente, no contato com a alteridade racial e cultural no contexto cearense, em meio a
múltiplas formas de inclusão e de discriminação racial. As identidades ressignificadas
expressam-se em comportamentos, atitudes, modos de vida, formas de ser e estar. Estes
processos são mediados por dimensões objetivas como, roupas, vestimentas e trajes, calçados,
cabelos trançados, bem como por dimensões simbólicas, como línguas faladas no cotidiano,
com destaque para o crioulo, culinária e modos de alimentação, expressões religiosas,
sexualidades e discursos. Nesta análise compreensiva, utilizo como aportes teóricos, os
estudos Pós-Coloniais, a partir das ideias de William Du Bois, Paul Gilroy, Stuart Hall, dentre
outros. No plano metodológico, utilizo, como recursos investigativos, a observação
sistemática, entrevistas abertas, em profundidade, mescladas com conversas informais, tanto a
nível presencial, como no espaço virtual, sempre registradas no “caderno de campo”.
Ercílio Neves Brandão Langa