NARRATIVAS DE INFÂNCIAS REFUGIADAS: A CRIANÇA COMO PROTAGONISTA DA PRÓPRIA HISTÓRIA

Qual é a percepção da criança refugiada sobre o processo migratório? Para encontrar a resposta, o caminho foi buscar compreender como se dá a inserção das crianças refugiadas no novo espaço social, cultural e simbólico. O estudo parte da premissa de que a migração é um fenômeno histórico irreversível, mesmo no contexto incerto pós-pandemia, e do fato de que metade dos refugiados no mundo atualmente são crianças. O objetivo principal foi dar visibilidade à criança refugiada e contribuir para reflexões sobre novos paradigmas da comunicação que surgem na relação intercultural com o pequeno migrante. Pelo seu aspecto transdisciplinar, a comunicação permitiu a exploração de diversos níveis da realidade migratória: simbólico, narrativo, discursivo e vinculativo. Uma vez que nas ciências sociais ainda predomina uma visão adultocêntrica relacionada ao processo migratório, esta pesquisa se destaca por apresentar a criança como protagonista. A metodologia consistiu em dois métodos: uma observação empírica de crianças em uma dimensão situacional nos abrigos de refugiados venezuelanos em Roraima; e a uma pesquisa qualitativa com crianças refugiadas venezuelanas e congolesas que moram no Rio de Janeiro, oferecendo uma escuta sensível, apoiada na empatia. Da observação nos abrigos, foram registradas cenas para ilustrar conceitos, como a fronteira como lugar de liminaridade. No Rio de Janeiro, uma atividade lúdica de colagem para a construção do novo lar foi criada exclusivamente para a relação dialógica, chamada de conversa vinculativa. O sensível das conversações voltou em formato de breves histórias que trazem a realidade subjetiva de cada criança e costuram o conteúdo da dissertação. Cada história ganhou dois títulos para mostrar que é possível olhar a mesma experiência sob diferentes perspectivas. Autores como ElHajji, Kristeva, Agier, Arfuch, Ferrarotti e Moscoso contribuíram com conceitos de comunicação intercultural, estrangeiridade, fronteira, relatos de vida e criança refugiada. A pesquisa não teve a pretensão de generalizar a condição da criança em situação de refúgio. Pelo contrário, ficou evidente que cada infância é uma experiência única. Ao mesmo tempo, foi possível identificar aspectos individuais com acentos coletivos. No grupo selecionado, foi observado que há abertura para o novo espaço social, cultural e simbólico. E que o eixo comum que une essas infâncias parece ser a expectativa de um acolhimento com afeto. No entanto, houve casos em que muros visíveis tornaram-se invisíveis, como se a fronteira estivesse em todo lugar. Ainda não é possível afirmar que esses muros se tornarão intransponíveis, perpetuando a divisão entre um e outro. Isso dependerá do que vem pela frente.

Fernanda Espinola Paraguassu de Sá

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