O dendê no wok: um olhar antropológico sobre a comida chinesa em Salvador, Bahia
No mundo contemporâneo, a cozinha chinesa está sofrendo muitas adaptações. Muitos pratos símbolos da “chinesidade” são produtos da culinária de diferentes regiões da China adaptados às preferências alimentares dos comedores do país de abrigo, não sendo mais identificados como pertencentes a sua cozinha pelos chineses. Na cozinha das casas, os chineses imigrantes mantêm sua herança cultural, no entanto, é na cozinha dos restaurantes que a imagem da comida chinesa é construída. E é neste cerne que este trabalho se insere, tendo como base os estudos desenvolvimentistas, que consideram as variáveis tempo e espaço na formação e evolução dos sistemas alimentares, o seu objetivo é compreender a formação da cozinha chinesa em Salvador, Bahia, Brasil tendo como objeto a comida chinesa servida nos restaurantes chineses localizados no Centro desta cidade e a comida chinesa consumida pelos imigrantes proprietários destes restaurantes.
Para esses imigrantes, a comida que se vende como chinesa não é a mesma que se come como tal, são duas preparações distintas que representam uma mesma cozinha. Na sua comida, os chineses revivem suas memórias, marcam seu espaço no novo território, constroem seu futuro, onde o novo e o velho se mesclam, onde os limites são fluídos e as fronteiras entre o eu e o outro se confundem.
A partir do entendimento da comida, como um símbolo cultural e uma marca de identidade, segui as transformações que ocorreram na comida chinesa até sua inscrição no cenário gastronômico da cidade de Salvador- Bahia. A comida e o comer são carregados de simbolismos e significados construídos historicamente. Daí, a necessidade de acompanhar a história de um alimento para compreender seu significado e as diversas relações estabelecidas em sua volta.
Ana Cláudia de Sá Teles Minnaert