A história de Dolores Lozada dos Santos começa na Espanha dos anos 40, governada pelo ditador Francisco Franco, que permaneceu como Regente do Reino da Espanha até 1975. Lolita – como é apelidada por alguns -, filha de Joaquim Losada Fouces e Maria Balbina del Pilar Ferro Fernandes, nasceu em Monforte de Lemos, município da província de Lugo.
Foi justamente essa situação de recessão em que se encontrava a Espanha (com vários anos de guerra civil) que trouxe Dolores – de apenas oito anos -, os pais e mais dois de seus três irmãos para o Brasil. Sua irmã mais velha continuou morando com os seus avós na Espanha e mudou-se apenas mais tarde, quando Joaquim Fouces já apresentava condições mais estáveis para trazê-la.
Brasil foi o país escolhido após indicação de um padre, responsável pela educação formal do pai de Dolores, e que esteve presente em nosso país na década de 40. Joaquim tinha princípios contrários ao autoritarismo de Franco, o que o motivou a procurar outro local para que sua família pudesse viver com mais liberdade, qualidade de vida e oportunidades de emprego. Além disso, outros quatro espanhóis de Monforte de Lemos tomaram essa mesma escolha e moraram, durante algum tempo, todos na mesma casa, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro.
A Volta Redonda de 1953 era muito atrasada – até devido a sua recém-criação -, segundo Lolita, com ruas sem asfalto, comércio escasso e com carência de escolas. Contudo, quando foi inaugurado um colégio de freiras, da Congregação Nossa Senhora do Rosário (criada por espanhóis), Dolores conta que foi a primeira aluna a ser matriculada e se sentiu muito bem nesse ambiente.
Sobre a transição da língua espanhola para o português, Maria Balbina (mãe de Dolores) foi a que demonstrou mais dificuldade de adaptação – apresentando sotaque até hoje. Já o pai de Dolores, que também falava inglês e francês, não teve problemas com o novo idioma. Seus irmãos mais velhos também ainda têm algum sotaque na fala, embora Lolita e seu irmão caçula tenham o perdido completamente.
A culinária espanhola foi e é presente na casa da família de Dolores, com a batata sendo a principal base de todas as refeições. Pratos típicos como a “paelha a empanada”, tortilha e alguns “embutidos” são feitos mesmo após sessenta anos morando longe do seu país de origem.
Dolores foi a única da sua casa que se naturalizou brasileira e explica isso devido ao fato de ter adotado o Brasil como o seu país, onde foi muito bem recebida e nunca passou por nenhum tipo de constrangimento por ser estrangeira. Casou-se com um brasileiro e teve dois filhos e netos. Por vezes, até esquece de sua origem espanhola, embora tenha sido criada ainda com valores culturais europeus e saiba falar o espanhol perfeitamente até hoje.
Atualmente, Dolores mora em Tangará da Serra, cidade do interior do Mato Grosso, com o seu marido. Mudança decorrente de uma boa proposta de emprego recebida de um ex-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional que já conhecia o seu trabalho na área de educação e Recursos Humanos. Aliás, sua formação é dupla, fez duas faculdades: Matemática e Pedagogia, ambas cursadas em Volta Redonda.
A estimativa era de permanecer no Mato Grosso por apenas um ano, mas esse tempo se estendeu e, hoje, se sente plenamente adaptada ao clima e rotina da região. Contudo, talvez volte para perto de seus filhos ainda em 2012.
O pai de Lolita faleceu aos 96 anos, em 2010 e sua mãe permanece viva com 95 anos. Não freqüentam nenhuma comunidade ou grupo de espanhóis e os que conheciam em Volta Redonda são quase todos falecidos.
Gabriela Xavier
