Se você frequenta alguma faculdade brasileira, vale a pena realizar esse exercício: experimente contar quantos alunos internacionais estudam na sua instituição. Poucos ou nenhum, correto? Entenda por que isso acontece e as medidas do governo do Brasil para mudar essa situação.
Foram consideráveis 11.886 vistos de estudantes estrangeiros expedidos no Brasil em 2012, mas o número poderia ter sido bem maior.
De 2008 a 2012 houve uma queda de interesse no ensino do país: 35% a menos dos jovens de outras nações interessaram-se pelo ensino gratuito em universidades brasileiras, oferecido pelo PEC-G (Programa de Estudantes – Convênio de Graduação).
Muitas são as dificuldades encontradas pelos que resolvem se aventurar em um país desconhecido. Impasses econômicos, culturais e burocráticos lideram a lista de possíveis problemas.
No mês passado, foi realizada a terceira reunião do Núcleo de Jovens Universitários Internacionais, idealizada pelos setores de Universidade e Mobilidade Humana, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Entre ações de cunho religioso, diálogo cultural e políticas públicas que garantam direitos e dignidade ao estrangeiro, a pastoral apontou as principais adversidades enfrentadas pelos estudantes: “Há dificuldades culturais, de integração com o ambiente cultural nas universidades ou com os outros jovens. Dificuldades financeiras também fazem com eles não consigam manter os compromissos, as despesas do curso. Então começam a surgir problemas até com a documentação”, ilustra o bispo referencial do Setor Universidades, Dom Tarcísio Scaramussa.
Pouca divulgação
Vindo, principalmente, da Colômbia, Portugal, França e Angola, alguns estudantes arriscam dizer que um dos motivos para a diminuição da procura internacional pelas graduações no Brasil consiste em sua divulgação.
A portuguesa Inês Silva Araújo, estudante de Comunicação Social na UFRJ, afirma que só soube da qualidade e oportunidade de ensino no Brasil através de uma amiga que realizou intercâmbio na universidade fluminense.
A cabo-verdiana Idalina Ramos, que concluiu os estudos (também em Comunicação Social) na UFPE ano passado, através do PEC-G, conta um caso semelhante: “No meu país faltam boas universidades. Gostei da experiência, mas ela poderia ser mais divulgada. Só vim porque minha irmã já havia participado do programa antes de mim”.
As autoridades brasileiras encontram-se a par da situação. No início deste mês, por exemplo, a UEA (Universidade Estadual do Amazonas) apresentou o programa “Minha Família Brasileira”, que visa estimular a vinda de estudantes internacionais oferecendo cursos de graduação e pós-graduação ao estrangeiro e ajuda de custo à família anfitriã que o receberá.
Além disso, no Paraná, a renomada universidade multinacional UNILA (Universidade Federal da Integração Latino-Americana) aposta, desde o primeiro semestre de 2012 em projetos de extensão da Língua Portuguesa. A iniciativa tem como principal objetivo o desenvolvimento de competências linguísticas que permitam um domínio do idioma português, facilitando, assim, o estreitamento das relações entre estrangeiros e brasileiros.
Um ganho para todos
Os estudantes que desembarcam no Brasil chegam com vários sonhos. A curiosidade sobre o país, as possibilidades de emprego e estudo e a qualidade de ensino são fortes motivadores do desejo de estar em salas de aula brasileiras. Dispostos a enfrentar adversidades, vivenciar novas experiências e descobrir as particularidades de uma cultura profundamente diversa da sua, é quase um consenso entre os alunos internacionais: vale a pena. E muito!
Numa era tão marcada pela globalização, tecnologia e avanços comunicacionais, é, no mínimo, desafiador compreender que as produções científicas e o conhecimento acadêmico encontrem-se tão “ilhados” em economias emergentes como China, Brasil e Irã e internacionalizados em nações como Estados Unidos, Reino Unido e Canadá. Será essa a fórmula para o desenvolvimento? Difícil responder. Mas se há um “elemento essencial” para a riqueza cultural de uma nação, ele é, sem dúvidas, a superação das fronteiras nacionais.
Gabriela Isaias
