1ª Conferência de Estudantes Guineenses na América: um balanço das reflexões e resultados.

A primeira conferência dos estudantes guineenses nas Américas ocorreu no Rio de Janeiro, no CCMN, localizado na Cidade Universitária, durante os dias 16 e 17 de dezembro. Tendo como tema “Pensar Guiné Bissau – Cidadania e Passos para Paz”, o evento tinha como objetivo, dentre outras coisas, suscitar o debate e a reflexão de estudantes guineenses acerca da necessidade de promover mudanças em seu país de origem – marcado por dificuldades no campo político e socioeconômico. Foi preciso, portanto, pensar a responsabilidade dos indivíduos que saíram de seu país à procura de uma formação acadêmica na consolidação da democracia e desenvolvimento guineenses, de forma a garanti-la pacificamente e considerando os direitos humanos de seus cidadãos. Mas, para além disso, a reflexão também se fez presente para não guineenses, como eu – única brasileira presente no primeiro dia.

A conferência contou com a presença do Professor Michael Minch, da Utah Valley University, filósofo e especialista em estudos de paz e justiça social. Em sua fala, Minch auxiliou os estudantes a pensarem estratégias possíveis para a ação modificadora da sociedade configurada atualmente em Guiné Bissau. Para isso, ele privilegiou, com dados numéricos, a utilização de estratégias pacifistas como geradoras de regimes democráticos, em que a não violência e o respeito pelos direitos humanos se consolidam mais intensamente. Sendo assim, segundo Minch, lutas marcadas pela não-violência criam, mais comumente, sistemas democráticos sustentáveis.

Para pensar transformações sociais em Guiné Bissau, os participantes do debate demonstraram uma clara inspiração em países americanos em que a democracia – definida por Michael Minch como algo para além de um tipo governamental, e sim, primeiramente, como uma cultura – se consolidou. Dessa forma, o Brasil e a experiência aqui vivida são valorizados como um fator que pode fazer a diferença ao se pensar a mudança tão esperada por eles em seu país de origem. O Brasil é, juntamente com outros países do mundo, um exemplo democrático para os guineenses – apesar de alguns setores da sociedade brasileira perceberem a necessidade de repensar seu modelo democrático e torná-lo mais participativo.

Embora existam similitudes lingüísticas e referentes à colonização, se faz necessário pensar um modelo democrático para Guiné Bissau e uma forma de alcançá-lo que considere suas particularidades histórias e culturais – esfera em que multiplicidade se faz muito presente graças à diversidade étnica. Nesse contexto, é preciso ouvir as necessidades do povo guineense, suas demandas e aflições. É dessa forma que se pode remediá-las, conhecendo-as verdadeiramente e, para isso, a agência de guineenses é essencial, ainda que a ajuda internacional e seus investimentos também o seja.

Para o próximo ano, Macote Ambrozio, presidente da União dos Estudantes Guineenses nas Américas, considera a possibilidade da ocorrência do evento em outro país, como Venezuela ou Cuba que, segundo ele, também contam com números expressivos de estudantes guineenses. Mostra-se necessário difundir as reflexões e estratégias pensadas em outros lugares para além do Brasil, e a UEGA está se mostrando como um meio para tal.

Ana Carolina Calenzo

Veja mais informações sobre o encontro no site da UEGA