Acolhidos no Brasil, judocas africanos fogem da guerra e sonham com Jogos.

Os judocas Popole Misenga e Yolande Bukasa nasceram no Congo, segundo maior país e quarto mais populoso do continente africano, mas pediram asilo e hoje moram no Brasil. Eles vieram disputar o Mundial em 2013 no Rio de Janeiro e abandonaram a delegação para pedir refúgio no Brasil buscando fugir das agruras da guerra em seu país natal. Depois de viver dois anos com muitas dificuldades, eles voltaram a treinar judô e hoje sonham com uma chance de disputar os Jogos Olímpicos.

Para chegarem ao Brasil, os dois passaram por uma viagem longa e conturbada. A guerra civil do Congo começou com a derrocada do ditador Joseph Mobutu e a ascensão de Laurent Kabila ao poder. O antigo Zaire virou República Democrática do Congo, mas o país continuou sob um regime autoritário. Kabila foi assassinado em 2001 e sucedido pelo filho Joseph Kabila.

Organizações ligadas às Nações Unidas estimam que mais de 5,4 milhões de pessoas já tenham morrido por causa da guerra civil do Congo. 2,7 milhões de congoleses precisaram abandonar seus lares, como Popole e Yolande fizeram ainda crianças.

Eles são do leste do país, região marcada pelos conflitos mais violentos dessa guerra. Na tríplice fronteira entre Congo, Uganda e Ruanda o ódio tribal foi inflamado pela disputa para controlar a exploração de um minério de ferro muito raro, utilizado na fabricação de telefones celulares e outros equipamentos eletrônicos, o coltan.

Os dois congoleses viveram durante quase dois anos numa situação bem próxima da indigência. Sem emprego, longe dos pais e dos irmãos, sem residência fixa, com dificuldade pra se comunicar. Dramas que passam despercebidos entre os mais de seis milhões de habitantes do Rio de Janeiro.

A chance de voltar a viver do judô surgiu há pouco tempo. Pelas mãos do Comitê Olímpico Internacional, esses atletas divididos entre duas pátrias sonham com uma possibilidade de defender uma terceira bandeira, a bandeira olímpica.

– A gente recebeu no final do ano passado a informação de que o COI estaria interessado em conhecer a história de refugiados no Brasil pra que eles pudessem disputar pela bandeira olímpica, não pelo seu país, mas pela bandeira olímpica. Aí, eles pediram pra gente indicar os refugiados e a gente indicou o Popole e a Yolande – conta a coordenadora do Programa de Atendimento a Refugiados da Cáritas do Rio de Janeiro, Aline Thuller.

Todavia o COI ainda não sinalizou que isso possa acontecer ainda nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Caso se confirme, uma delegação de refugiados defendendo a bandeira olímpica seria uma iniciativa inédita na história do esporte.

(Globo Esporte – 23/08/2015)