Na última sexta-feira, dia 25, o SESC Copacabana foi transformado em um pedaço da Colômbia. Evento promovido pelo Consulado colombiano em São Paulo contou com falas importantes, degustação de comidas típicas e apresentação de músicas latinas. A comunidade colombiana na Cidade Maravilhosa recebeu ainda uma grande notícia: o consulado colombiano no Rio de Janeiro será reativado em 2025.

Era um fim de tarde nublado e com temperatura amena, um pouco atípico para a primavera no Rio de Janeiro, marcada pelo sol e o calor que vai crescendo conforme se aproxima o verão. O cinza que predominava no ambiente exterior, no entanto, contrastava com a atmosfera do auditório do SESC Copacabana. O hall de entrada e a sala do auditório vestiram-se de amarelo, azul e vermelho – as alegres cores da bandeira da Colômbia – para receber o público, que seria contemplado com uma bonita noite em homenagem ao “país de la belleza”.

No saguão estava montado o banner do consulado colombiano em São Paulo, o organizador do “Rio de Janeiro: encuentro con la Diáspora Colombiana”, e uma mesa colorida preparada pela migrante colombiana Margarita Campos, fundadora do “Patacón Son y Sabor”, que mais tarde ofereceria comidas e bebidas típicas do país que deslumbraram a audiência, formada por colombianos e brasileiros.

O consulado da Colômbia em São Paulo atende nos sete estados do Sul e Sudeste do Brasil, onde se concentra cerca de 70% da população colombiana residente em território brasileiro. A representação consular na capital paulista atua em diversas áreas relevantes como emissão de documentação, assistência social a pessoas em situação de vulnerabilidade, assistência jurídica e na promoção da cultura e da integração de colombianos e colombianas e seus descendentes na diáspora, realizadas através do programa “Colômbia nos Une”, realizado pelo Ministério de Relações Exteriores do país sul-americano.

O evento “Rio de Janeiro: encuentro con la Diáspora Colombiana” foi realizado no contexto do desejo do Estado colombiano de se aproximar da comunidade que vive fora do país, e antes da capital carioca a equipe do consulado esteve também em cidades como Santos, Curitiba e Foz do Iguaçu.

Diferentes falas, distintas perspectivas

A primeira fala foi da da Profa. Dra. Catalina Revollo Pardo, colombiana que mora no Rio de Janeiro e tem uma trajetória pessoal, acadêmica e de militância nas migrações no Brasil. Catalina, que foi a primeira coordenadora do  Centro de Referência e Atendimento para Mirantes (CRAI-Rio) e participa do Comitê de Políticas Públicas para Migrantes do Estado e da Prefeitura do Rio de Janeiro, discorreu sobre a participação das pessoas migrantes na construção de políticas públicas e da legislação migratória no Brasil. Ela deu especial ênfase à segunda edição da Conferência Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia (II COMIGRAR), que será realizada entre 08 e 10 de novembro em Brasília. O Manuscrito de Políticas Públicas, desenvolvido pelo governo, não está sendo disponibilizado para os coletivos migratórios, o que vai de encontro ao artigo 120 da Lei de Migrações, que prevê que a Política Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia será efetuada com a participação de organizações da sociedade civil.

Benvindo Manima.

Em seguida foi a vez de Benvindo Manima, angolano e atual coordenador do CRAI-Rio,  que divulgou os serviços oferecidos pela instituição e a Colocou à disposição para colaboração com o consulado na acolhida e atendimento aos migrantes colombianos e colombianas. Benvindo, assistente social e mestre em Justiça e Segurança (UFF), é também migrante, naturalizado brasileiro, e além de expressar um grande carinho pela Colômbia, disse se sentir identificado com as experiências de muitos colombianos:, “sobretudo com os colombianos negros”.

A terceira fala foi da María Fernanda Castañeda Lafont, venezuelana e Coordenadora de Políticas de Migração e Refúgio da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro. María apresentou o trabalho da pasta, principalmente em relação ao Comitê Estadual de Políticas Públicas para Migrantes, espaço que reúne lideranças migrantes e representantes do estado para o estabelecimento de políticas para essa população.

María Fernanda Castañeda Lafont

Para finalizar a rodada de apresentações, o cônsul Fabián Romero Aponte destacou diversos dados sobre os migrantes colombianos e colombianas que o Consulado atende e os principais serviços oferecidos – como os trâmites virtuais para solicitação de alguns documentos, as atividades sociais e culturais promovidas e outras iniciativas. Fabián apresentou também a Mesa Nacional da Sociedade Civil para las Migraciones, que é um espaço participativo, promovido pelo programa “Colômbia Nos Une”, no qual podem participar tanto colombianos no exterior como retornados para discutir a pauta migratória com o fim de contribuir com uma política de migração que contemple tanto a imigração quanto a emigração. 

O cônsul reforçou ainda que, com a eleição de Gustavo Petro, o primeiro político de esquerda a chegar à presidência da Colômbia, houve também uma mudança na forma com que as histórias do país são contadas. Se antes havia uma predominância das histórias institucionais, agora existe uma clara predileção pelas histórias de vida subjetivas dos cidadãos, evidenciada em projetos como o “Mural da Memória”, iniciativa realizada em parceria com o SESC Interlagos (São Paulo), na qual indivíduos contaram suas histórias de deslocamento forçado em meio ao conflito armado presente no país.

O cônsul Fabián e o público presente no auditório do SESC Copacabana.

No final, Fabián anunciou a reabertura do Consulado da Colômbia no Rio de Janeiro, que a partir de 2025 irá atender os colombianos no estado fluminense, no Espírito Santo e no Nordeste. A notícia foi comemorada com aplausos e expressões de alegria dos presentes. Houve ainda um espaço para trocas com o público, quando algumas demandas surgiram, como: apoio para os empreendedores colombianos e colombianas, necessidade de mais suporte nos trâmites de regularização de atletas da Colômbia que atuam no Brasil, o oferecimento de aulas de espanhol para os filhos nascidos no Brasil e a realização de mais eventos culturais que promovam o encontro entre colombianos.

Mas a presença do consulado paulista no Rio não se resumiu apenas às falas e escutas. Após a conversa, o Patacón, Son y Sabor ofereceu comidas típicas da Colômbia, como patacones, arepas e empanadas, acompanhadas da deliciosa água de panela, bebida refrescante que mistura rapadura com limão. O lanche foi saboreado não somente por colombianos, mas também pelos brasileiros presentes, como um grupo de senhoras curiosas que, após descobrirem novos sabores, não conseguiram mais ficar longe da mesa onde estavam os petiscos e bebidas. Em seguida, começou o show do grupo musical La Santa Clave, formado por artistas de diferentes locais da América Latina, que fez os presentes brincarem e dançarem ao som de cumbia, salsa, son e outros ritmos, “criando pontes culturais entre músicas brasileiras e dos países vizinhos”, como afirmou José Robinson Enciso, que toca violão na banda. O Rio de Janeiro já espera ansioso pelo próximo evento da comunidade colombiana. 

Imagens: Sidney Dupeyrat de Santana