
As redes sociais digitais se tornaram ferramentas indispensáveis para pessoas migrantes que buscam informações, conexões e oportunidades. Porém, esse mesmo espaço também abriga riscos: golpes praticados por chamados “coiotes digitais”, que oferecem, de forma fraudulenta, documentos, vistos e empregos.
No dia 11 de setembro de 2025, o Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI Rio) promoveu uma palestra sobre o tema, reunindo usuários do serviço, em sua maioria migrantes. O encontro contou com a participação da equipe jurídica do CRAI, que apresentou orientações legais, e da coordenação do centro, que trouxe dados sobre o aumento de solicitações de ajuda, especialmente de pessoas de países árabes que recorrem à internet em busca de apoio pelo serviço.
Foi nesse contexto que o psicólogo e pesquisador do DIASPOTICS/UFRJ, Me. Brunno Ewerton, organizou e traduziu para o árabe a Cartilha sobre Migrações e Redes Sociais, junto a comissão científica do Coordenador Geral DIASPOTICS/UFRJ Dr. Mohammed ElHajji e Vice Coordenadora DIASPOTICS/UFRJ Dra. Catalina Revollo Pardo. A iniciativa surgiu a pedido do CRAI Rio, diante do grande número de migrantes árabes que enfrentam situações de vulnerabilidade digital. O material reúne orientações práticas de prevenção, detalha como funcionam os principais golpes, apresenta canais de denúncia e lista contatos institucionais confiáveis.
A cartilha é fruto das pesquisas do Instituto de Psicologia no Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (EICOS/UFRJ), em parceria com o grupo de pesquisa DIASPOTICS (UFRJ). Mais do que um guia informativo, o material conecta produção acadêmica e ação social, com o objetivo de proteger direitos humanos, prevenir violências e ampliar a segurança digital de pessoas em mobilidade.
A versão em árabe conta ainda com um prefácio assinado por Rima Awada Zahra, psicóloga libanesa-brasileira, escritora e coordenadora da pós-graduação em Psicologia e Migração da PUC Minas. Autora e coautora de obras reconhecidas por entidades como a FNLIJ e a Biblioteca Nacional, Rima tem trajetória marcada por trabalhos sobre migração, educação e saúde mental em contextos de vulnerabilidade social. Também organizou e traduziu para o português livros de grande relevância internacional, como Sumud em tempos de genocídio, da psiquiatra palestina Drª Samah Jabr, e Diários de Gaza, ambos publicados pela Editora Tabla.
Segue o texto do prefácio escrito por Rima para a cartilha em árabe:
“As migrações sempre marcaram a história dos povos árabes, seja pela busca de melhores condições de vida, seja pela necessidade de escapar de guerras, ocupações e crises políticas. Nos últimos anos, porém, esses deslocamentos assumiram dimensões ainda mais dramáticas. Conflitos armados, violações de direitos humanos, genocídio, instabilidade econômica e mudanças climáticas forçam milhares de famílias a atravessarem fronteiras em busca de refúgio e dignidade.
Esta cartilha surge como uma ferramenta essencial para se compreender os processos migratórios em suas complexidades. Ao iluminar as trajetórias de quem parte e de quem acolhe, ela convida à reflexão sobre o presente: um mundo em que a mobilidade humana é, ao mesmo tempo, direito, resistência e sobrevivência.
O Brasil guarda em si uma parte da história árabe. Entre nós vivem hoje milhares de palestinos, muitos deles carregando no corpo e na memória o peso do deslocamento forçado e do genocídio. Alguns chegaram por programas emergenciais de reassentamento, outros se somaram a uma comunidade já enraizada, que luta para manter viva a cultura e a identidade de um povo em diáspora.
Da mesma forma, a presença libanesa no Brasil transcende séculos e estatísticas. São milhões de descendentes e, ao mesmo tempo, refugiados recentes que bateram às nossas portas em momentos de crise. O salto de mais de 1.200% nos pedidos de refúgio libanês após 2011 revela como as instabilidades no Oriente Médio reverberam em nosso território.
Na era das redes sociais digitais, onde se cruzam promessas de apoio e armadilhas perigosas, reconhecer esses fluxos é também reconhecer responsabilidades. A experiência migratória árabe no Brasil nos lembra que cada dado é, na verdade, uma vida em movimento, em busca de pertencimento e de futuro.” – Rima Awada Zahra.
Faça o download gratuito: https://pantheon.ufrj.br/handle/11422/26285





