Os objetivos do oestrangeiro.org são poucos e simples. Mas, a nosso ver, oportunos e pertinentes. Urgentes – se considerarmos a questão migratória no atual contexto nacional e internacional. A crise econômica sofrida pelos países do Norte e o redirecionamento dos fluxos migratórios transnacionais, devido a essa dificuldade momentânea e ao crescimento de xenofobia e fechamento das sociedades europeias e norte-americanas, recolocaram o Brasil no cenário migratório global. O país voltou a ser, depois de várias décadas, um destino potencialmente privilegiado de imigrantes de diversas regiões do mundo.
Porém, há sérias dúvidas quanto ao preparo tanto da estrutura administrativa como da grande mídia e a sociedade brasileira em geral para aproveitar as vantagens econômicas, culturais e sociais do fenômeno e, principalmente, evitar a contaminação demagógica e preconceituosa veiculada pela mídia eurocêntrica. Temor que se justifica não apenas pelas manifestações de alguns formadores de opinião e políticos nacionais, mas também (talvez sobretudo) pelo próprio histórico do país com relação às migrações, como ficou registrado na virada do século XIX para o XX.
A preocupação é dupla. Primeiro, pecar pela falta de clareza administrativa e excesso burocrático que acabam desencorajando os indivíduos mais qualificados a se estabelecerem em nosso país. Mais uma vez, nossa experiência passada não incita ao otimismo. Além das barreiras artificiais impostas aos indivíduos e grupos candidatos a ingressar ao país no final do século XIX e início do XX – época áurea da imigração para o Brasil, perdemos a histórica oportunidade em ouro de atrair para cá os valiosos cientistas soviéticos na ocasião da implosão da URSS. Enquanto os países mais preparados (países europeus, Austrália, América do Norte e Argentina notadamente) se desdobraram na disputa por esta elite científica órfã de seu império, Brasil se destacou por seu absoluto imobilismo e falta de iniciativa.
A segunda preocupação é o risco de voltar aos velhos reflexos racialistas e etnicizantes do Brasil arcaico. Pois, não há como ignorar os ecos dos discursos eurocêntricos eugenistas e suprematistas que persistem no espaço público da República. Basta atentar aos apelos a uma maior rigidez no tratamento aos candidatos à imigração para o Brasil, as declarações públicas que mal escondem seu caráter racista e o adjetivismo alarmista da grande mídia para perceber que ainda precisa lutar muito para se livrar de certas ideologias dos anos 30 e da nostalgia do Brasil império. Falar em estender o tapete vermelho para uns e barrar a suposta invasão de outro, por exemplo, não é nada mais de que a atualização do discurso migratório biologizante das oligarquias nacionais.
O problema é que esta visão é duplamente equivocada. Além, da riqueza social e cultural inerente à imigração, há muitas competências profissionais dentre os não europeus candidatos a ingressar o Brasil. Muitos são detentores de diplomas universitários ou técnicos de médio nível; sem esquecer que, atualmente, falta todo tipo de mão de obra em nosso país. Por outro lado, os europeus altamente qualificados não parecem muito interessados em nosso país. Ao contrário de que alardeia a mídia nacional, o fluxo migratório oriundo da Europa rumo ao Brasil contínua insignificante se comparado a outros destinos mais competitivos, como os Estados Unidos, Canadá, Austrália e Alemanha.
Ou seja, de um lado estamos falhando em nossa veleidade de atrair europeus altamente qualificados e, por outro lado, estamos sendo injustos e preconceituosos para com grupos de outras origens e fenótipos. A mesma equação se aplica, em termos diferentes e com mais ou menos acuidade, aos 4.000 refugiados (muitas vezes apresentados de modo alarmante) e outros poucos milhares de estudantes estrangeiros!
Portanto, os objetivos do oestrangeiro.org podem ser resumidos da seguinte maneira: Apoiar os imigrantes, refugiados e estudantes estrangeiros no Brasil. Independentemente de sua origem, classe social, cor ou credo. Orientar, informar, dar a palavra a esses mesmos imigrantes e denunciar, quando é preciso, atitudes discriminatórias, preconceituosas ou contrárias aos princípios de respeito e dignidade humana. Dar a palavra aos cidadãos interessados pelo tema ou preocupados com a questão. Constituir um plataforma de atuação junto à mídia, sociedade civil e opinião publica. Agregar instituições sociais, políticas ou humanas implicadas na questão migratória no Brasil, como também colaborar com as redes de pesquisa que tem o fenômeno migratório como foco de ação e atuação.
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