Haitianos deixam família para trás em busca do Brasil de emprego e dinheiro.

Com a intenção de cuidar, eles deixam quem amam para trás. Atravessam fronteiras dentro de um ônibus apertado, carregando o medo de serem violentados por coiotes –os intermediários que acertam o trajeto entre a terra de origem até o Brasil.

Tudo isso para conseguir o principal objetivo em novas terras: trabalho. A incerteza do rumo para onde seguem é nítida a cada conversa. A única coisa que sabem é que não conseguiam mais sobreviver em seus lares no Haiti.

O ano de 2014 foi fortemente marcado pela alta vinda de haitianos para o Brasil. Segundo Padre Paolo Parisi, responsável pelo trabalho da Casa do Migrante, projeto sem fins lucrativos que acolhe imigrantes e refugiados em São Paulo, o número de haitianos nos últimos quatro anos aumentou 17.310%.

“Em 2010, ano que ocorreu o terremoto no país, o Brasil teve 20 haitianos acolhidos. Em 2011, foram quase 80. No ano seguinte, o número saltou para 700. Já em 2013 subiu para 2.400. Até outubro deste ano, já acolhemos 3.462”, diz Parisi.

Mas quem são esses imigrantes? Quais são seus sonhos e necessidades? O que os trazem até aqui? Vejam, a seguir, alguns relatos desses novos “brasileiros”:

“Aqui a vida é muito ruim, mas na rua é pior”

Iliot Cyrise morou em uma ocupação no centro de São Paulo, o Palacete do Carmo. Um cômodo improvisado e o banheiro coletivo por andar foram sua realidade até novembro, mês no qual o local foi desocupado pela Polícia Militar. “Casa no Brasil é muito caro, a situação é muito difícil”, diz. Quando questionado sobre o seu maior sonho, responde rapidamente: “Conseguir dar uma casa para minha família”.

“Para meu filho, a avó é a mãe dele”

Nacilia Nascius chegou ao Brasil em 2013 ilegalmente. Sozinha, saiu da República Dominicana, atravessou Colômbia, Equador e Peru e encarou dez dias de ônibus até o Acre para depois chegar a São Paulo. No Haiti, deixou três filhos. “Não o culpo”, diz sobre ela considerar a avó como mãe. “Deixei ele tão pequenininho.” Atualmente, ganha R$ 800 numa confeitaria. Em novembro, deu à luz um brasileiro.

“Deixei minha mulher e agora estou aqui”

Louides Charles é líder de uma banda formada só com integrantes haitianos, a Satellite Musique. Trabalhador da construção civil, para ele a música, cantada em creole e em francês, ajuda a unir a cultura de seu povo com a nova casa, o Brasil. “Música não tem nacionalidade, música é do mundo, diferente de português, francês e inglês. A nota da música é uma só”, diz.

“O importante da vida é ter Jesus”

Jocelyn Lareun era professor de inglês no Haiti e tem diplomas de alemão e espanhol. Veio para São Paulo em 2014 por indicação de um amigo. Chegou com a ambição de ser intérprete em hotéis. Atualmente trabalha com serviços gerais em um supermercado. Ele explica que não importa se você tem dinheiro ou grandes coisas. Para ele, a vida é ter fé e Jesus, para ir a qualquer lugar.

Debora Komukai

(UOL Notícias – 22/12/2014)