Permissões para trabalho vêm diminuindo e solicitação de visto cai pela metade.
Em tempo de vacas magras, as petroleiras e fornecedores também estão mandando de volta para casa executivos e técnicos estrangeiros. Dados do Ministério do Trabalho revelam que o número de permissões para trabalho de estrangeiros em plataformas de petróleo no País vem caindo: em 2012 eram 15.554, despencando para 11.988 no fim de 2013 e chegando a 11.797 em 2014. A solicitação de visto caiu pela metade, segundo fontes.
O retorno de estrangeiros que permaneciam no Brasil para desenvolver grandes áreas exploratórias é uma realidade, por exemplo, na anglo-holandesa Shell. Sócia da Petrobrás no pré-sal, a petroleira concluiu a exploração de uma das suas áreas mais estratégicas, o bloco BC-10, na Bacia de Campos. Com o fim do trabalho, enviou especialistas que estavam no País para atuar exclusivamente na área para outros países. Sem novos projetos do mesmo porte, as vagas foram remanejadas.
A transformação dos recursos humanos do setor ocorre, em parte, por causa do grande intervalo entre os leilões da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O trabalho de exploração de muitas áreas terminou sem que outros blocos tenham sido concedidos. A consequência foi o desaquecimento do mercado das fornecedoras de equipamentos e serviços para a exploração e, por tabela, as contratações e salários.
A responsável pelo recrutamento em óleo e gás da Hays, Vanessa Zehetmeyer, diz que um expatriado chega a custar até quatro vezes mais, por isso as empresas têm buscado qualificar e contratar profissionais locais. Em posições técnicas específicas, porém, não há como prescindir dos estrangeiros. A solução tem sido mantê-los por menos tempo e com a missão de treinar um brasileiro.
A empresa de realocação de funcionários MRS diz que desde o fim de 2014 dobrou a frequência de repatriação de estrangeiros por multinacionais da cadeia de óleo e gás. Com projetos parados fica inviável manter essa mão de obra mais cara.
Excluída a remuneração, o pacote de um expatriado em cargo gerencial no setor custa em torno de R$ 25 mil por mês – incluindo aluguel e custos com escola para um casal com um filho -, estima o sócio da MRS Rubens Mendes. “Intermediávamos a vinda de três a quatro famílias por semana. Agora esse é o volume mensal”, conta Mendes.
Os reflexos são sentidos também no setor imobiliário. Especializada na locação a expatriados transferidos por múltis para o Rio, a IWS Intelworks diz que os aluguéis de imóveis de alto padrão caíram 33%, para a faixa de R$ 20 mil a R$ 15 mil. A IWS já teve 60% da carteira concentrada no setor, fatia que recuou a 40%. “Os imóveis de alto padrão tiveram que baixar. Conseguimos compensar graças à Rio 2016. O ano passado foi um dos piores para o setor em uma década e a perspectiva em 2015 não é melhor”, diz Claudia Perez, sócia da IWS.
A situação é pior nas cidades movidas a petróleo. É o caso da fluminense Macaé, onde o porcentual de imóveis vagos já chega a 40%. Em 2011 e 2012, com o setor aquecido, multinacionais chegavam a manter o aluguel de imóveis vazios aguardando um executivo, já que a demanda era maior que a oferta.
Mariana Durão e Fernanda Nunes
(O Estado de S. Paulo – 19/02/2015)