Mais de 70.000 vagas continuam em aberto em Santa Catarina.
A haitiana Wislene Josephe, 34 anos, é uma das três mulheres que chegaram com o grupo a Florianópolis na madrugada de ontem (03/06). Ela saiu de Porto Príncipe, capital do Haiti, de ônibus, com destino à República Dominicana, de onde viajou de avião até o Peru, para poder entrar no Brasil pelo Acre. “Gastei muito dinheiro no Peru, paguei para atravessar a fronteira com o Brasil”, queixou-se.
Ela passou no Capoeirão para avaliação médica e fazer cadastro pessoal. Assim como a maioria dos estrangeiros, Wislene disse que não escolhe emprego. No Haiti trabalhava no comércio. Ela e as outras duas mulheres do grupo foram encaminhadas à Casa da Mulher, abrigo localizado no bairro Agronômica.
Jambier La Guerra, 25, contou que saiu do Haiti após o terremoto de 2010 e foi trabalhar na República Dominicana. Guardou algumas economias e veio para o Brasil em busca de melhores oportunidades. Por meio de intérprete, ele disse que gostaria de trabalhar na construção civil ou frentista de posto de combustível. Já o colega Calisthene Robilard, 26, trabalhava no Haiti no comércio e gostaria de um emprego de feirante no Brasil.
O presidente da Associação Kay Pa Nou, que atende haitianos que vivem em Florianópolis, Clarens Cherry, afirmou que a grande maioria seguirá viagem para o Rio Grande do Sul e interior de Santa Catarina. “Em Florianópolis ficarão apenas cinco haitianos”, contou.
“Achar que eles vêm aqui para tirar empregos é desinformação”
O mercado de trabalho, de acordo com o governo do Estado, está aberto a estes profissionais. “Achar que eles vêm aqui para tirar empregos é desinformação”, criticou Angela Albino, secretária de Estado de Assistência Social.
De acordo com o Ministério do Trabalho, há 72 mil vagas de emprego em aberto no Estado. Ivone Maria Perassa, diretora de Trabalho da secretaria, afirma que “de modo geral, o mercado tem simpatia em contratá-los”. Entre as características atribuídas aos haitianos e senegaleses estão o perfeccionismo e a dedicação. “Eles estão abertos a qualquer emprego”, completou.
A Superintendência do Trabalho e Emprego em Santa Catarina foi encarregada de produzir as carteiras de trabalho necessárias para que os estrangeiros possam começar a trabalhar. O ministro do Trabalho, Manoel Dias, comentou que vem recebendo constantemente relatos de empresários satisfeitos com o trabalho dos haitianos. Segundo ele, boa parte das vagas que está sendo ocupada, em especial no Oeste do Estado, estava em aberto por falta de interessados. “E nós acreditamos que o país continuará gerando empregos, não apenas para os haitianos, mas para muitos brasileiros. A liberação da importação de carne suína e de frango pela China deve garantir novas oportunidades para Santa Catarina”, argumentou.
Sem aviso prévio
Na manhã de ontem (04/06), depois que os imigrantes recém-chegados já recebiam atendimento, o prefeito Cesar Souza Júnior (PSD) criticou a falta de informação. “Fomos saber através de um boato, a confirmação veio do governo do Estado na sexta-feira, com informação de que chegariam no sábado”, contou. “Eles estarem aqui é uma questão humanitária, estamos atendendo. Eles estando na cidade passam a ser problema nosso. Mas a maneira como foram conduzidos pelo Ministério da Justiça e governo do Acre foi completamente amadora. Nós não vamos mais aceitar dessa maneira”, completou.
O prefeito pede que em caso de novos envios, a comunicação seja feita com 40 dias de antecedência, acompanhada de recursos. “Eles [governo] precisam saber qual a capacidade de absorção da cidade e do Estado, buscar um equilíbrio”, sugeriu.
O governo do Acre informou que na sexta-feira, no sábado e domingo outros ônibus saíram do Norte do país com destino ao Sul, mas não sabe dizer quantos imigrantes virão para Florianópolis. Ontem à noite, outro veículo partiria. “Até sexta-feira, sairá um ônibus por dia, com 44 pessoas em cada um deles, com destino a Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre”, afirmou Concita Cardozo, assessora da Secretaria de Direitos Humanos do Acre. Segundo os que já chegaram a Santa Catarina, a maioria vem nas mesmas condições: já com contatos com amigos e familiares e documentação regular, em busca de emprego.
Stefani Ceolla e Colombo de Souza
(Notícias do Dia – 05/06/2015)