O último atentado contra imigrantes haitianos é mais um reflexo do clima de ódio e intolerância que assola o país.
Seis haitianos foram baleados em dois ataques diferentes na Baixada do Glicério, no centro de São Paulo, na tarde de sábado 1º. Os feridos foram internados no Hospital Tatuapé, na zona leste da capital. A suspeita é que o crime tenha sido motivado por xenofobia.
Os haitianos, entre eles uma mulher, teriam sido feridos em momentos distintos, no mesmo dia. Dois foram baleados na rua do Glicério e outros quatro na escadaria da paróquia Nossa Senhora da Paz. A instituição religiosa abriga a Missão Paz, que acolhe os imigrantes na capital.
De acordo com as vítimas que estavam na escadaria, o atentado partiu de um carro cinza, com quatro ocupantes. Antes de atirar, um deles teria gritado: “Haitianos, vocês roubam nossos empregos!”
Já, segundo a Secretaria de Direitos Humanos, o boletim de ocorrência registrado no 8º Distrito Policial informa que “um ocupante de um carro que passava no local teria gritado “haitiano!” e logo depois alvejado as vítimas”.
Os feridos passaram por duas unidades de saúde antes de conseguir atendimento médico. “Eles não foram atendidos por racismo, foram mandados para casa com as balas e com dor”, relatou o haitiano Patrick Dieudanne, que prestou socorro às vítimas.
O caso foi registrado como lesão corporal grave no 8º DP do Brás. A autoria do crime ainda é desconhecida. A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo disse, em nota, que tomou conhecimento do caso por meio da Coordenação de Políticas para Migrantes e que “repudia o fato ocorrido”.
A Secretaria afirmou ainda que acompanhará, de forma independente, a apuração e que a prefeitura está comprometida em “combater toda e qualquer forma de violência e xenofobia na cidade”.
O padre Paolo Parisi, da Missão Paz, que abriga imigrantes no Glicério, disse que foram utilizadas armas de chumbinho no ataque. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) confirmou que há um boletim de ocorrência sobre o ataque registrado, mas não tinha mais informações sobre o caso.
O Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes (CRAI), da Prefeitura, informou que todos os feridos foram atendidos no Hospital Municipal Tatuapé, e que o estado de saúde é estável. Dois dos feridos devem passar por cirurgia nesta segunda-feira (10/08). Uma das vítimas, que foi atingida na virilha, já foi atendida, de acordo com Parisi.
De acordo com o padre Paolo, que registrou o boletim com mais quatro vítimas, o veículo de onde partiram os tiros era cinza e o ataque ocorreu a cerca de 100 metros da Paróquia Nossa Senhora da Paz, onde fica a missão. “Dois foram atingidos abaixo do joelho, um na coxa e outro na virilha”, disse. Ele também contou que há possibilidade de ter ocorrido outro ataque, mas não conseguiu confirmar com os imigrantes.
Para o padre, o ataque pode ter sido vingança: “Faz algum tempo tentaram levar a bolsa de uma moça aqui perto. Um dos haitianos interferiu e entregou a bolsa de volta para a menina. Na hora, os assaltantes ameaçaram dizendo que ‘iriam voltar'”, contou.
A Secretaria disse que “ repudia o fato ocorrido” e ressalta o “compromisso desta gestão em combater toda e qualquer forma de violência e xenofobia na cidade”.
(Agências)