Estrangeiros fazem sucesso produzindo típicos produtos de seus países.
Quando a simpática Tiphaine Datin, de 40 anos, trocou a vista para a Torre Eiffel pela paisagem com o Cristo Redentor, o objetivo era claro: mudar de vida. Tiphaine liderava uma equipe com cerca de 50 profissionais, responsáveis por prestar consultoria a bancos franceses, e mantinha uma rotina de 14 horas de trabalho por dia. Hoje, um ano e meio depois de desembarcar por aqui, ela é conhecida como a Titia do Brioche e distribui sorrisos em feiras da Zona Sul.
– Não estava feliz com a minha vida em Paris. Cheguei ao Rio sozinha, sem falar português. Fazia brioches em casa e comecei a vendê-los. No início, minha clientela era basicamente formada por franceses que não encontravam o produto na cidade. Mas, com o tempo, os cariocas também provaram e gostaram – conta Tiphaine.
Vendas pela Internet
Tiphaine está entre os estrangeiros que deixaram seus países e encontraram, no Rio, um mercado consumidor carente de produtos artesanais da culinária internacional. Sabendo disso, antes de deixar a região de Basilicata, no sul da Itália, Giuseppe Alagia, de 33 anos, colocou na mala as receitas de antepastos elaboradas por sua ”mamma”, e, desde 2011, usa o Facebook para vender suas iguarias.
– Os sabores são berinjela, pimentão, abobrinha e jiló. Na Itália, os antepastos são consumidos, tradicionalmente, antes das refeições. Aqui, muita gente gosta de comer com bruschetta, na salada e no sanduíche. Já o de pimentão fica ótimo com churrasco – indica o italiano, que mora no Recreio e entrega seus potinhos de antepasto na casa dos clientes.
Também utilizando o Facebook, o confeiteiro Jeff Mauget, de 40 anos, deu início às vendas de seus produtos em 2014, quando deixou Paris e pisou definitivamente em terras cariocas com a mulher e as duas filhas pequenas. Hoje, ele tem uma charmosa confeitaria virtual, recheada de biscoitos, tortas, bolos, geleias, petits gâteaux e quiches, além dos produtos mais procurados: pães e croissants.
– Os cariocas gostam da comida francesa. A única dificuldade é encontrar matéria-prima de qualidade. Quando cheguei, por exemplo, tive que testar todas as manteigas que existem no mercado até achar uma que se adequasse às receitas francesas. Creme de leite também é difícil. Passei a comprar de produtores artesanais. E continuo testando e experimentando tudo para oferecer o melhor produto para meus clientes – afirma Jeff, que já pensa em abrir uma loja física.
E que tal um típico limoncello para ajudar na digestão? Fã de bossa nova e admirador da língua portuguesa, o suíço Christopher Middeke, de 25 anos, cansou da rotina burocrática no banco onde trabalhava, em Zurique, e, há oito meses, chegou ao Rio com o desejo de produzir o famoso licor de limão da região da Suíça Italiana.
– Todo o sabor do limoncello, por exemplo, está na casca do limão siciliano. Para isso, eu a deixo mergulhada em álcool de cereais por três semanas, para que toda a essência da fruta seja absorvida. Após esse processo, faço um xarope com água e açúcar, misturo com o álcool e deixo descansando por mais uma semana, até ficar pronto o licor, totalmente artesanal e natural – explica Christopher, que também produz, em casa, um molho de linguiça de porco com radicchio (um tipo de chicória), misturados com sal, pimenta e vinho.
Em agosto do ano passado, Thiago Nasser, junto com dois amigos, promoveu a primeira Junta Local, feira que reúne, no Rio, produtores artesanais do Brasil e do exterior. Na época, 15 fornecedores estiveram no evento, divulgando os produtos preparados em casa ou no campo. Quase um ano depois, já são cerca de 150 participantes, com 20% de estrangeiros. A última edição, realizada em dois dias na Casa da Glória, recebeu mais de quatro mil visitantes.
– Acreditamos que o sucesso dos produtos artesanais seja uma reação contra as comidas homogeneizadas, produzidas em grande escala. É um mercado que está dentro de uma margem de crescimento que independe de crise econômica – analisa Thiago.
Há dois anos e meio no Rio, o indiano Dhiraj Kotai resolveu colocar em prática os ensinamentos gastronômicos de sua mãe e passou a vender, pela internet, a autêntica comida de seu país. Os pratos mais pedidos são os vegetarianos, como grão-de-bico com molho masala.
– Estamos cada vez mais conhecidos pelas pessoas e nosso objetivo é abrir um espaço em breve – diz Kotai.
Para o suíço Christopher, há muitos produtos que ainda não são comuns de encontrar no mercado brasileiro, o que pode ser explorado pelos estrangeiros que vivem no país:
– Aqui, as pessoas estão valorizando mais a história por trás de um produto e a maneira como ele é feito.
Confira abaixo como encontrar os típicos sabores da culinária internacional.
Titia do Brioche
Facebook: Titi a “Brioche”
Às terças, na feira da Praça General Osorio, em Ipanema
Aos sábados, na feira da General Glicério, em Laranjeiras
Aos domingos, na feira da Glória
Italia in Barattolo
Antespastos italianos
Facebook: Italia in Barattolo
Atelier des Saveurs
Pães, croissants e doces franceses
Facebook: Atelier des Saveurs
http://www.atelierdessaveurs.com.br/
Sapori di Casa
Limoncello
Facebook: Sapori di Casa – Rio de Janeiro
Namaste Indian Food
Culinária indiana
Facebook: Namaste Indian Food
Paulo Roberto Junior
(Globo – 12/07/2015)