Um das primeiras imagens ao rolar o perfil no Twitter do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) é o compartilhamento dado à saudação vinda de Matteo Salvini, ministro do Interior italiano.

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Salvini saúda Bolsonaro: “Também no Brasil os cidadãos mandaram a esquerda para casa! Bom trabalho para o presidente Bolsonaro, a amizade entre nossos povos e nossos governos será ainda mais forte! (Twitter/Jair Bolsonaro).

Líder do Liga, partido de direita, Salvini passou a ser conhecido internacionalmente pelas falas duras contra o direito dos imigrantes e refugiados que tentam buscar melhores condições de vida na Europa e, especialmente, na Itália. Logo depois de ser empossado, no meio de 2018, disse: “Portas abertas na Itália para pessoas boas e um bilhete de ida para aqueles que vêm para Itália causar confusão e acham que vamos cuidar deles. Mandá-los de volta para casa será uma das nossas maiores prioridades”, divulgou a Folha de S.Paulo.

Na matéria da Folha, mais restrições: propostas para deportar 500 mil indivíduos indocumentados e restringir os gastos com solicitantes de asilo e refúgio.

Em setembro deste ano, a Carta Capital também noticiou o endurecimento das políticas migratórias na Itália, cuja lógica seria expulsar aqueles imigrantes considerados um “perigo social”. Mas a verdade é que o plano não era só para os considerados criminosos. Seguindo a tradicional cartilha do discurso anti-imigratório, Salvini propôs criar centros de expulsão que não permitiriam que navios desembarcassem na costa por conta do desemprego dos italianos.

Além da ação na Itália, Salvini tem questionado países próximos como a França e a Alemanha para que endureçam as entradas.

O discurso nacionalista do italiano se une ao de Bolsonaro, que propôs em agosto a criação de campos de refugiados para venezuelanos e chamou refugiados de “escória do mundo” a um jornal, em 2015. Além das propostas que demonstram desconhecer a realidade de imigrantes e refugiados, o futuro presidente do Brasil ataca o trabalho daqueles que conhecem e estudam a realidade. Ao mesmo tempo em que propôs a criação de campos de refugiados, medida adotada no Ceará (entre 1915 e 1932) para migrantes internos vitimizados pela extrema fome com o intuito de confiná-los e não perturbarem a ordem social, Bolsonaro chamou de “vergonha” a nova Lei de Migração (13.445/2017), sancionada pelo presidente Michel Temer sob muitos vetos, mas ainda considerada pela sociedade civil organizada um avanço na política migratória brasileira.

Resta saber como o crescimento dos nacionalismos impactará o Brasil. A seguir Salvini, Bolsonaro contará com diversos companheiros na luta contra o direito humano de deslocar-se.

Otávio Ávila