“Não é mais possível hoje falar de migração sem falar de hospitalidade e vice-versa”, afirma o professor da UFRJ Mohammed Elhajji, Doutor em Comunicação e Cultura, em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil, no dia 24/6 (veja aqui no link o programa completo). Segundo Elhajji, que é marroquino e chegou no Brasil há 30 anos para estudar questões culturais e identitárias no curso de mestrado, a hospitalidade foi fundamental no processo de formação da espécie humana. Sobre hospitalidade, Elhajji refere-se à capacidade de acolher, de receber, de aceitar a diversidade.

O professor destacou que o marco na literatura sobre a hospitalidade ligada à migração deu-se no livro A paz perpétua, de Immanuel Kant, em que o filósofo prussiano fala do direito do visitante ser respeitado, considerado dignamente em qualquer lugar do mundo, e o dever de receber. Isso estaria relacionado, segundo ele, ao processo de formação de uma democracia universal.
A hospitalidade também será tema de debate na Fundação Casa de Rui Barbosa nos dias 27 e 28 de junho, no Rio, promovido em parceria com a Embaixada da França, e que também terá a participação de Elhajji. Durante o Colóquio “Hospitalidade entre ética, política e estética”, o antigo conceito de hospitalidade será questionado, uma vez que parece ter sido atualizado em função da dimensão dos movimentos migratórios contemporâneos ao redor do mundo. (Acesse a palestra do Prof. ElHajji no Colóquio aqui).
Elhajji explicou que a imigração não é um trajeto que se dá apenas no espaço, mas também no tempo. “Saímos de uma linhagem do tempo, demos um pulo e entramos em outra linhagem do tempo. Aquele tempo ficou lá, sem mim. Não posso mais pegá-lo de volta”, disse. Tanto que, quando o imigrante volta para casa, ela não é mais a mesma, porque o tempo também andou ali.
O ato inaugural da reconstrução da identidade do imigrante acontece no momento em que o sujeito se dá conta de que abandonou seus familiares, sua terra, seus sonhos, suas ambições e embarcou em outra história, que começou antes dele chegar, e precisa então construir uma nova narrativa própria. “O que a gente ganha com a imigração é uma segunda vida”, disse. Elhajji falou ainda sobre a dor da imigração, da saudade, da nostalgia ou o mal do país (mal du pays) e sobre subjetividade identitária durante o processo migratório. “Mudamos o tempo todo”, afirmou.
Por Fernanda Paraguassu