Avoid Tourist Traps

A última aula da disciplina “As migrações transnacionais entre teoria e mundo da vida: a perspectiva dos pesquisadores e pesquisados”, organizada pelo grupo Diaspotics coordenado pelo Prof. Dr. Mohammed ElHajji, na UFRJ, contou com a presença de dois imigrantes sul-americanos: Juanita Cuéllar Benavides, da Colômbia, e Santiago Offenhenden, da Argentina.

Acompanhados por Catalina Revollo Pardo, pesquisadora associada ao Diaspotics, o trio partilhou experiências do Coletivo Colombianxs por la Paz e do Bloco musical Bésame Mucho, ambas experiências político-culturais de imigrantes no Rio de Janeiro, e demonstram uma faceta importante das migrações. Onde há comunidades diaspóricas há festa, encontro e reconstrução das memórias coletivas daquilo que se deixou para trás.

Iniciando pela experiência colombiana, Juanita e Catalina comentaram que o Coletivo nasceu a partir da mobilização pelo ‘sim’ ao Acordo de Paz entre o Estado e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), em 2016. Conduzida pelo presidente Juan Manuel Santos, que posteriormente receberia o Nobel da Paz pelo Acordo, as pesquisadoras (Juanita é doutoranda em ciências sociais cel UFRRJ)  ainda lamentam o resultado do plebiscito que deu ao ‘não’ 50,2% de votos, cédula vencedora, especialmente nas regiões centrais do país. Os emigrados e as regiões fronteiriças, as mais afetadas pela violência, votaram majoritariamente pelo ‘sim’, apoio não suficiente para fazer o governo de Santos obrigar-se a sentar com a oposição e pensar um novo Acordo de Paz.

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Hoje o Coletivo continua suas atividades, sempre de olho na atualidade colombiana. A greve geral eclodida no fim de novembro, por exemplo, estava sendo acompanhada de perto pelos imigrantes. “O Coletivo tem a capacidade de se reunir, adaptar-se. É mais fluido, tem uma ideia de espontaneidade e a possibilidade de criar uma série de vínculos e laços que não existiam”, afirmou a cientista social, dando a entender que a reunião dos colombianos não tem apenas a função de integrar-se às lutas do país, mas também ser um espaço de convivialidade e encontro para aqueles que estão do outro lado das fronteiras nacionais.

Já Santiago Offenhenden vive há 10 anos no Rio de Janeiro e apresentou a criatividade de um bloco que participa da vida cultural carioca trazendo músicas de todo o continente, misturando ritmos latinos e brasileiros. Criado em 2012 e formado majoritariamente por imigrantes do continente, o Bésame Mucho já se tornou conhecido na cena multicultural da cidade. Sobretudo, quando se trata do Carnaval, Santiago traz uma reflexão importante. Para ele, é nessa época que “se abre uma janela de exceção”. Os laços sociais ficam em suspenso e é o momento propício para a interação entre gerações, classes sociais, e estrangeiros. Analisando o Carnaval como uma festa de rua, massiva e popular, Santiago afirmou, ele mesmo, que parte de uma visão romântica da festa e que excluiria o componente territorial que complexifica as relações de exclusão de uma metrópole como  é o Rio. Mas não deixa de afirmar se tratar de uma fantasia, ou seja, do desejo daquilo que alguém gostaria de ser, possível apenas no Carnaval. Talvez o desejo de brasileiros serem estrangeiros? Ou estrangeiros serem brasileiros nessa mistura expressada nas músicas e danças? Santiago não disse, mas cravou: “Nós vamos nos misturar”.

Gostou do Bloco? Eles têm ensaios todo sábado e cada integrante precisa adquirir seu instrumento. Talvez seja você o próximo a alegrar o Carnaval carioca com um toque latino.

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Otávio Avila