Ndeye Fatou Ndiaye, aluna do Colégio Franco-Brasileiro e filha de migrantes
senegaleses, foi vítima de racismo por parte de colegas da escola. A jovem de 15 anos
ficou sabendo por um amigo, no último domingo, sobre as declarações preconceituosas
trocadas em um grupo de um aplicativo de troca de mensagens.
O conteúdo racista continha frases como: “para comprar um negro, só com outro
negro mesmo”; “dou dois índios por um africano” e “um negro vale uma bala”.
Também havia mensagens falando especificamente sobre Ndeye, uma com os dizeres
“fede a chorume” e outra, em resposta, “escravo não pode. Ela não é gente”.
A família registrou um Boletim de Ocorrência sobre o caso e, em resposta aos atos
racistas dos alunos, o Colégio Franco-Brasileiro divulgou uma nota de repúdio e
encaminhou o caso ao Conselho Tutelar.
A adolescente conta, ao Universa/UOL: “Pensei nos meus professores, que sempre foram
muito engajados, sempre demonstraram muito apego à luta racial, sempre me deram
voz pra expor minhas ideias. Uma professora me mandou uma carta em que diz sentir
que falhou. Eu não acho que ela falhou e eu pensei primeiro neles”.

“Eu não fiquei triste porque eu sei quem eu sou, eu sei qual é a minha história, não vou deixar quatro pessoas que não conhecem nada de mim me abalarem. Eu fiquei indignada, mas ficar triste, eu fico triste pela família do João Pedro, que perdeu seu filho. Fico triste também pelos pais desses meninos, porque imagino que essas famílias fizeram tudo para educá-los”, disse ainda ao canal do UOL.
Filha do senegalês Mamour Sop Ndiaye, professor de engenharia elétrica no CEFET-RJ
e fundador da loja de roupas África Arte, Ndeye é aluna do colégio há dez anos. Em
entrevista ao G1, o pai declara: “Tudo é a questão racial. Porque a pessoa que atira o
gatilho, que faz tudo isso, na realidade, faz isso por causa do sistema. O problema não
é o CPF, mas o próprio sistema. Eu desconheço algum negro brasileiro que não tenha
sofrido racismo”.
Fatou também comentou sobre o racismo ao G1: “O meu colégio é de excelência, um dos melhores do Rio de Janeiro. A gente vê que, mesmo com pessoas que têm todos os acessos à educação, à informação, continua se propagando coisas extremamente racistas. É uma forma de mostrarmos que o racismo está em todos os lugares e a gente vai combater não só judicialmente, mas com conhecimento”, destacou a jovem.
João Paulo Rossini Coelho
Pesquisador do Diaspotics/UFRJ