Assim que começamos a batalha contra o novo coronavírus (Covid-19) e que o isolamento social foi instituído no Brasil, o grupo Diaspotics/UFRJ começou a perceber um crescente número de inscrições no grupo por nós administrado no Facebook, o ‘Brasil País de Imigração’.
Este aumento de solicitações de participação no grupo nos chamou a atenção a ponto de elaborarmos uma pesquisa para conhecer melhor quem eram estes solicitantes, se eram imigrantes, qual o país de origem, onde se encontravam neste momento de pandemia, qual era a profissão e em que trabalhavam, como chegaram até a página do grupo, que tipo de informação estavam buscando e, se a situação de isolamento social havia sido uma motivação para buscar nosso grupo.
A pesquisa foi realizada com todos os integrantes que aderiram à página no período de março a maio de 2020 e o contato foi realizado pontualmente através de mensagem privada da plataforma.
Com a primeira resposta de “oi”, “ola”, “ciao” começávamos a estabelecer um diálogo, aprofundar o contato e saber mais e melhor quem eram. Mas, a pergunta que questionava se a situação de isolamento social havia motivado a buscar nosso grupo e o porquê, aproximou-se ainda mais de algumas pessoas e fez movimentarmos nossa rede de apoio, pois começamos a chegaram pedidos de ajuda tanto do Brasil, quanto do exterior, especialmente dos países da América do Sul.
Em nossas trocas de mensagens soubemos que os empregos e a fonte de renda que mantinham suas famílias haviam desaparecido durante a pandemia e buscavam apoio junto aos órgãos responsáveis pela integração dos imigrantes, como ACNUR, ONU e ONGs, nos países onde se encontravam.

Perguntas básicas sobre direitos, legislação e onde buscar apoio para cestas básicas, por exemplo, chegavam ao nosso grupo sem que tivessem tido respostas destas organizações. Assim, passamos a apoiá-los através de nossa rede naquilo que precisavam, ou seja, atendimento psicológico, informações sobre legislação, endereços dos órgãos responsáveis em seus vários países, onde buscar apoio financeiro do governo, cestas básicas e atendimento físico e psicológico.
Notamos que as informações mais básicas de ajuda a este momento não chegavam completamente aos imigrantes, que sendo imigrantes e/ou sem vínculos definidos pela documentação, a dificuldade de obter resposta ou auxílio era a mesma, no Brasil e nos demais países da América do Sul.
A solidão e a escassez de rede de amigos no país de acolhimento se faziam perceber nestas situações e a importância destas ficava mais clara quando nós, do grupo de pesquisa acionávamos a nossa rede para contribuir com informações, atendimentos, acolhimento.
Com tudo isto, e que foi uma pequena amostra do que presenciamos e vivenciamos em um pequeno contato realizado através de mensagens privadas trocadas em uma das páginas de nosso grupo de pesquisa, deduzimos que os órgãos de ajuda aos refugiados, tanto no Brasil, como no exterior, não estavam dando conta da tamanha demanda de solicitações. Ações que acontecem muito pela mobilização e articulação de grupos da sociedade civil ou grupos pertencentes a instituições de ensino, e cuja falta de ações do Estado nesse campo é flagrante.

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Flavia Arpini
Psicóloga, mestranda em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pela UFRJ e membro do Diaspotics.