Na dissertação de mestrado “Vidas e memórias que atravessam o continente: a construção identitária intercultural dos migrantes chilenos e descendentes no Rio de Janeiro“, Guilherme, um brasileiro filho de mãe chilena, comenta: “O que a música folclórica chilena representou pra mim na questão da identidade? Quando eu não tinha dinheiro e também ainda tava no ensino médio, adolescente, eu não tinha dinheiro para ir para o Chile de férias regularmente.. era a única coisa que me mantinha conectado, era o único vínculo forte que eu tinha com esse lado chileno“.

Carioca de origem chilena, Guilherme participou ativamente durante mais de uma década de um grupo folclórico chileno. Os eventos de música e dança promovidos pelo conjunto significavam para ele, mesmo a milhares de quilômetros do Chile, se sentir parte do universo chileno. A conexão e a comunidade, citadas por Bell Hooks (2021), construíam no jovem brasileiro o sentimento de estar vinculado ao país da mãe e da avó.

Além da identificação com um novo (ou não tão novo assim) universo, grupos e eventos mantidos e realizados por estrangeiros (migrantes ou não) mexem com a imaginação das pessoas. Muitos indivíduos, através do cinema, culinária, literatura, dança, fotografia, música e outras formas artísticas, viajam sem sair da terra natal. Os constantes fluxos de pessoas, informações e imagens que cada vez mais circulam pelo mundo, por conta dos avanços nas tecnologias de transporte e comunicação, aproximam o imaginário das pessoas em relação ao diferente, como lembra Appadurai: “a relação directa entre os sujeitos e a sua produção do cotidiano ou da localidade é mediada pelo trabalho da imaginação; e é através dela que estes elementos circulantes são capturados; não apenas porque nos movemos fisicamente, mas simplesmente porque captamos o que se move. Ainda que estejamos parados. (Appadurai Apud Ferreira, 2009, p. 134-135).

Já contamos sobre iniciativas permanentes que conectam o público brasileiro com outros universos, como a feira boliviana que acontece todos os domingos na Praça Kantuta, em São Paulo. Agora falamos sobre diversos eventos e oportunidades culturais promovidos por estrangeiros, museus, consulados e embaixadas e que ocorrerão nos próximos meses ou estão disponíveis em caráter permanente. Tem cinema, música, leitura, artes visuais, gastronomia, oportunidade científica e programa de intercâmbio. Aproveitem!

Online

Lançamento da revista eletrônica “Libanus”

Foi lançada no início de julho a 1ª edição da Revista Eletrônica “Libanus”, da Academia Líbano-Brasileira de Letras, Artes e Ciências. A edição conta com 70 páginas, com artigos de 14 acadêmicos, 2 sócios correspondentes (Argentina e Líbano) e um cineasta, além de uma entrevista e três contos árabes. A revista conta ainda com dois artigos dedicados à migração libanesa: “Joseph e Jacob, entre os primeiros imigrantes Brasil-Líbano”, do professor Roberto Khatlab; e “Memórias da imigração e o poeta Foed Castro Chamma”, de Miguel Pachá. Uma iniciativa fundamental que aproximará ainda o Brasil e o Líbano, países que possuem uma grande e bonita história em comum.

Mostra de Cinema Israelense

Iniciou em 27 de julho a segunda edição da Mostra de Cinema Israelense, organizada numa parceria entre Sesc e Instituto Brasil-Israel (IBI), com apoio do Consulado Geral de Israel em São Paulo.  Composta por dez filmes dirigidos por mulheres, entre curtas, médias e longas-metragens de ficção e documentários, ficam disponíveis até o dia 2 de agosto, na plataforma Sesc Digital, de forma gratuita para todo o país. 

Programa Jovens Embaixadores

O Programa Jovens Embaixadores (ou Youth Ambassadors, em inglês) é um intercâmbio de curta duração nos Estados Unidos para estudantes destacados do Brasil que estão no ensino médio da rede pública. Esta é uma iniciativa oficial do Departamento de Estado norte-americano e, no Brasil, é coordenada pela Embaixada e Consulados dos Estados Unidos da América. Inscrição e mais informações aqui.

Migraçõs à Mesa

“Migrações à mesa” foi uma exposição montada no Museu da Imigração em 2016 e que atualmente está disponível no Google Arts & Culture. Aborda “a potência dos sabores na condução por memórias e afetos e no encurtamento de distâncias. A mostra também aborda os impactos da experiência do deslocamento na alimentação, convidando o público a ver as cozinhas como guardiãs de heranças culturais”. Fundamental para quem se interessa pelos aspectos culturais da migração.

GyopoCast apresenta filme “Diário da Imigração”, sobre migração coreana no Brasil

O Gyopocast, podcast dedicado à comunidade coreana no Brasil, lançou um novo episódio sobre o “Diário da Imigração”, documentário produzido pelo Consulado Geral da Coreia do Sul em comemoração aos 60 anos da imigração coreana no país.

São Paulo

Semana Franco Uspiana 2023

Iniciativa da Universidade de São Paulo (USP) e do Consulado Geral da França em São Paulo, o simpósio, que acontece entre 18 e 22 de setembro, buscará apoiar iniciativas de cooperação científica entre pesquisadores franceses e da USP. Cada projeto selecionado poderá receber financiamento de até R$10.500,00, e propostas poderão ser submetias até 08 de agosto. Inscrições podem ser feitas aqui.

Exposição Onde o arco-íris se esconde

O Museu da Imigração apresenta até 29 de outubro exposição Onde o arco-íris se esconde, de Paulo Chavonga. Artista nascido na Angola e residente em São Paulo, Chavonga, através de histórias pessoais, busca retratar as experiências de vida de migrantes africanos no Brasil: “Todo imigrante tem uma história e uma memória. Quero criar um olhar humano entre o brasileiro e o imigrante africano. Quero dar voz aos africanos. A mostra reúne também denúncias de xenofobia e racismo, o que tem levado à migração reversa, onde os imigrantes africanos saem do Brasil para outros países ou mesmo para retornarem para sua terra natal”.

Exposição Migrar: inquietações, perguntas e possibilidades

Até 03 de dezembro está em cartaz, também no Museu da Imigração, a instalação Migrar: inquietações, perguntas e possibilidades. A exposição surgiu de discussões no próprio museu sobre os diferentes significados da experiência migratória.

Festa da Achiropita

A partir de 05 de agosto e até 03 de setembro, acontecerá no Bexiga a Festa da Achiropita. O evento é uma homenagem à Nossa Senhora de Achiropita, padroeira do bairro, e uma celebração à cultura italiana. Na Paróquia Nossa Senhora Achiropita (R. treze de Maio, 478), visitantes poderão provar pratos italianos e shows ao vivo da banda Felice Itália e os Três Tenores Brasileiros.

Rio de Janeiro

Concerto de Sítar com Shubhendra Rao

No dia 07 de agosto às 20hs, acontecerá no Theatro Municipal o concerto de sítar com o maestro Pandit Shubhendra Rao, que estará acompanhado do violoncelista Saskia Rao-de Haas. Oportunidade única de experimentar a belíssima música indiana em um lugar muito especial. Ingressos aqui.

II Mostra de Cinema Nórdico

Entre 09 e 21 de agosto acontece no CCBB Rio de Janeiro a II Mostra de Cinema Nórdico, uma parceria entre o projeto Diálogos Nórdicos – que foi criado pelas Embaixadas da Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia -, o Festival Ponte Nórdica, e o Instituto Cultural da Dinamarca. Serão vinte filmes, entre curtas e longas, com sessões gratuitas. Os ingressos devem ser retirados na bilheteria do espaço ou no site bb.com.br/cultura. Informações completas aqui.

Exposição Um Defeito de Cor

Até 27 de agosto, está em cartaz no MAR a exposição Um Defeito de Cor, que interpreta o livro de mesmo nome da escritora Ana Maria Gonçalves. A obra e a exposição percorrem a história de Kehinde, uma mulher africana que no Brasil procura reconstruir sua vida e lutar pela liberdade. O público poderá conferir cerca de 400 obras de artes entre desenhos, pinturas, vídeos, esculturas e instalações de mais de 100 artistas do Brasil e da África. Dividida em 10 núcleos, que se espelham nos 10 capítulos do livro, a mostra fala de revoltas negras, empreendedorismo, protagonismo feminino, culto aos ancestrais, África Contemporânea, entre outros temas.

Imagem do post: divulgação Pandit Shubhendra-Rao

Ferreira, Teresa. Entrevista a Arjun Appadurai. Comunicação & Cultura, n. 7, pp. 133-140, 2009.

Hooks, Bell. Tudo sobre o amor: novas perspectivas. São Paulo: Elefante, 2021.