Camila Escudero é Doutora em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ), Mestre em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, Pós-graduada em Língua Portuguesa e Jornalismo Internacional, pela PUC-SP e Graduada em Jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo.
Atualmente, é docente-pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo e Consultora UNESCO-ONU. Atuou como pesquisadora associada do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), como membro da equipe de formadores do Núcleo de Educação para Relações Étnico-Raciais e Educomunicação da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de São Paulo e como consultora OIM-ONU.
Participa, ainda, do Grupo de Pesquisa Diaspotics e da Comunidade Emergente de Comunicação COMUNI. Além disso, é uma das líderes do Grupo de Pesquisa Mob- Com e coordenadora do projeto Brasileiros no exterior, plataforma de dados sobre emigração brasileira; e é uma das convidadas do XI Colóquio sobre Migrações, que ocorrerá no campus da Praia Vermelha entre os dias 11 e 13 de março.

O Estrangeiro: O que lhe motivou a escrever sobre a violência contra a mulher migrante? É algo que já vem lhe incomodando há algum tempo ou é uma inquietação recente?

Camila Escudero: Eu realizei uma consultoria para a OIM em 2021 e foi um trabalho que envolveu a comunidade de brasileiros no exterior. Era outro tema, sobre o impacto desse grupo no desenvolvimento sustentável nos países de destino e origem. Porém, apareceu a temática da violência contra a mulher. Desde então, aprofundo os estudos sobre emigração brasileira e essa questão das mulheres e da violência me incomoda muito, porque sabemos da realidade enfrentada pelas mulheres no Brasil, mas para as mulheres em situação de deslocamento tudo fica mais complicado, especialmente por conta dos processos históricos (patriarcado, machismo etc..). Assim, venho estudando o tema, tentando colher dados. Porque ainda é um assunto pouco conhecido.

OE: De que ordem é a violência à qual você se refere? É física, simbólica ou ambas?

CE: Esse é um dos principais problemas quando se estuda a violência contra a mulher. Muitas pessoas não têm dimensão de que a violência não é só física. Ela é psicológica, simbólica e tudo mais. Um relacionamento abusivo, ainda que não haja agressão física, é uma forma de violência. Um assédio sexual ou moral no ambiente de trabalho, também. E quando se trata de relações de mulheres brasileiras com estrangeiros ou quando a situação de regularidade jurídica no país de destino da mulher está atrelada ao parceiro (por ex. a mulher brasileira que vai acompanhando o marido, expatriado) é muito mais difícil. Se tem filhos, então, nesse relacionamento, a vulnerabilidade aumenta porque as leis dos países de destino tendem a proteger seus cidadãos. Outro agravante é que no Brasil, pelo menos, já temos a Lei Maria da Penha que, apesar de todos os problemas na sua aplicação, pode ser considerado um avanço. Mas nos outros países isso não existe. É uma situação bem complexa. Dependendo do caso, a situação vai parar no Tribunal de Haia, na Holanda.

OE: No Resumo, você nos conta que o texto aborda, inicialmente, a perspectiva transnacional e intercultural. Considerando o uso do “inicialmente”, que outras perspectivas você julga pertinente e que podem enriquecer a pesquisa?

Há muitas perspectivas para se estudar esse tema: a interseccionalidade é uma delas. As pesquisas sobre políticas públicas e organização social também. O campo da psicologia social, da economia, do direito… enfim, como todo processo migratório é um assunto interdisciplinar, então é uma pesquisa que não tem fim (risos).

OE: Quando aborda a questão da metodologia, você cita a análise documental e o estudo de dados, qualificados como escassos. Considerando essa escassez, você considera fazer entrevistas com mulheres migrantes, residentes no exterior, que sofrem (ou sofreram) violência?

Sim, com certeza. Já tenho entrevistas realizadas não só com mulheres vítimas da violência, mas, também, com organizações que apoiam essa causa no exterior. Então, venho colhendo o material para ir avançando.