Italianos lembram migração para a Serra do RS, iniciada há 140 anos.
A comunidade de Cavaso del Tomba, na Região do Vêneto, Norte da Itália, guarda lembranças especiais da imigração italiana ao Brasil. Foi da cidade de três mil habitantes que milhares de camponeses partiram em busca de refúgio em terras estrangeiras, no século XIX. A chegada dos primeiros italianos ao país completa 140 anos em 2015.
A Itália é um país que conserva e se orgulha de suas origens. O agricultor Alfredo Cadorin, de 70 anos, é um exemplo de que a história perdura. Ele segue no campo produzindo frutas e hortaliças, a mesma atividade realizada pelos bisavós. Entretanto, a terra fértil de hoje pouco lembra as dificuldades que a família enfrentou há muitos anos.
“No tempo da imigração, a terra rendia pouco. Faltava um pouco de tudo. Tinha pouco adubo, porque tinham poucos animais”, conta.
A escassez fazia com que a vida no campo não rendesse. A falta de tecnologia tornava as terras cada vez mais desgastadas e improdutivas. Além disso, grande parte dos agricultores trabalhava em áreas arrendadas. Muitas vezes, mais da metade da produção era destinada para o pagamento do aluguel e sobrava pouco para comer.
Naquela época, também faltava lenha para cozinhar e aquecer as casas no rigoroso inverno europeu. A cada dia que passava, era preciso trabalhar mais para ganhar menos. A taxa de analfabetismo chegou a 70%, e a população ficou isolada.
Com medo de uma revolta popular, a solução encontrada pelo governo italiano foi mandar o povo para outros países. Companhias de migração contratadas pelo Brasil ofereciam aos italianos terra fértil, lenha, vinho e polenta em abundância para que eles escolhessem a viagem ao país.
“As famílias eram muito numerosas. O que faziam? Quando tinham 18 e 20 anos, iam para a Austrália e para a América”, conta Alfredo.
A situação ficou ainda mais tensa com o movimento de unificação da Itália, em 1861. Até então, o país era dividido em oito estados independentes, com moedas e línguas diferentes. O reino de Piemonte-Sardenha, no Norte, era mais desenvolvido e queria se unir ao Sul para aumentar o mercado consumidor. Com a conquista, os impostos subiram e o desenvolvimento da indústria dificultou a fabricação artesanal dos produtos feitos pelos agricultores.
Foi assim que parentes da italiana Rosa Zamoni decidiram ir embora. O avô, conta ela, partiu em busca de uma nova vida na América, assim como muitos outros italianos.
“As guerras e os conflitos ajudaram muito eles a pensarem: ‘Vamos para uma terra onde não tenha isso'”, relata ela.
Até hoje, Rosa mantém com muito carinho os documentos do avô. Entre eles, a reprodução do passaporte com o visto da polícia do porto do Rio de Janeiro, em 1875. A família se estabeleceu na colônia Conde D’Eu, onde hoje fica o município de Garibaldi, na Serra do Rio Grande do Sul.
(G1 – 20/05/2015)