Diversos eventos celebram Dia Mundial do Refugiado no Rio de Janeiro e em São Paulo.
No momento em que o Brasil registra um número recorde de estrangeiros que chegam ao país fugindo de guerras e perseguições, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e seus parceiros organizam, entre 15 e 20 de junho, diversos eventos para marcar o Dia Mundial do Refugiado, celebrado neste sábado (20/06).
Nesta sexta-feira (19/06), no Rio de Janeiro, a partir das 16h30, dezenas de refugiados participarão, no Cristo Redentor, de uma cerimônia com a presença do coro infantil Coração Jolie – formado por crianças refugiadas que vivem no Brasil. Ao final da cerimônia, que contará com representantes do ACNUR, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, da Caritas Arquidiocesana, do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) e da organização não governamental IKMR – além de artistas e músicos, o Cristo Redentor será iluminado com a cor azul característica das Nações Unidas e do ACNUR.
No sábado (20/06), em São Paulo, acontece o lançamento da 2ª Copa dos Refugiados, em uma cerimônia no SESC Interlagos (Av. Manuel Alves Soares, 1100 – Parque Colonial) com mais de 100 refugiados de diferentes países – além de representantes do ACNUR, da Caritas Arquidiocesana de São Paulo e autoridades dos governos estadual e municipal. Nesta ocasião, serão sorteados os grupos que disputarão a Copa (em agosto) e acontecerá uma partida amistosa entre Nigéria e Camarões (as equipes campeã e vice-campeã do torneio de futebol disputado em 2014) – além da apresentação, ao vivo, da música do videoclipe “Refugees in Brazil” (ou “Refugiados no Brasil”), elaborado e produzido por refugiados que vivem em São Paulo.
Em todo o mundo, o Dia Mundial do Refugiado é uma oportunidade para celebrar a força, a coragem e a resistência das pessoas que foram forçadas a deixar suas casas e seus países por causa de guerras, perseguições e violações generalizadas de direitos humanos. Segundo o relatório do ACNUR “Tendências Globais”, que será lançado nesta quinta-feira (18/06), o deslocamento forçado devido a conflitos atingiu níveis recordes no mundo e está acelerando rapidamente.
O Brasil se insere neste contexto e registra também um número recorde de refugiados reconhecidos e de solicitantes de refúgio. Segundo dados do CONARE, o país abriga cerca de 8 mil refugiados de 81 nações diferentes, além de ter recebido 12 mil solicitações de refúgio durante o ano de 2014.
Outros eventos – Além dos eventos no Cristo Redentor e no SESC Interlagos, o ACNUR e seus parceiros realizam outras atividades para marcar o Dia Mundial do Refugiado no Brasil.
Na terça-feira (16), o ACNUR participa em Brasília do 1º Seminário Interinstitucional para Refugiados e Ajuda Humanitária, promovido pela Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (ANAJURE) e a Frente Parlamentar Mista para Refugiados e Ajuda Humanitária (FPMRAH). O evento acontece a partir das 11h, no plenário 13 da Câmara dos Deputados, em Brasília. Além do ACNUR, participam representantes do CONARE, do Ministério das Relações Exteriores, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e da ONG Médicos Sem Fronteiras.
Por fim, a partir das 9h da manhã da quinta-feira (19/06), também no Rio de Janeiro, estudantes da Escola Municipal Friedenreich (Avenida Maracanã, 782) irão colorir 400 bonecas de pano cedidas pela empresa Com Lola, que serão posteriormente doadas para crianças refugiadas sírias que vivem na Jordânia e também para crianças refugiadas que vivem no Brasil. Esta atividade é parte da campanha “A Volta ao Mundo em uma Mochila”, executada pelo ACNUR em diversos países das Américas para sensibilizar o público sobre o impacto do deslocamento causado por conflitos e violações de direitos humanos na vida de milhões de meninas e meninos.
Opressão e gênero
No Rio, ainda, uma atividade realizada pela Caritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro transformou em atores refugiados da República Democrática do Congo (RDC) e da Costa do Marfim. Por meio de cenas curtas e sem palavras, os refugiados abordaram e debateram questões de gênero e de violência contra as mulheres.
A atividade foi resultado da parceria estabelecida entre a Caritas Rio – que atua com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) – e o Centro de Teatro do Oprimido, encerrando um ciclo de oficinas realizado ao longo dos últimos dois meses com mulheres e homens atendidos pela instituição.
Foram três cenas curtas e sem palavras, mas carregadas de significado. Baseada em histórias reais vividas pelos participantes, a peça de Teatro-Fórum “Problemas de Mulher” abordou o processo de construção de gênero, que estabelece espaços segmentados entre homens e mulheres.
Uma das cenas jogou luz sobre as dificuldades enfrentadas por africanas que desejam estudar, mas esbarram no comportamento machista de seus próprios companheiros. Ao final de cada apresentação, os refugiados eram convidados a discutir a imposição de barreiras de gênero em suas relações familiares e matrimoniais.
“Sabemos que, para eles, é difícil debater essas questões, mas era fundamental iniciar o diálogo”, disse Monique Rodrigues, socióloga do Teatro do Oprimido. “No início das oficinas, as mulheres não participavam de nenhuma atividade, principalmente quando havia homens. Hoje, apesar da timidez, elas conseguiram se apresentar e expor seus problemas na frente de todo mundo. Isso foi um avanço. Essas oficinas foram uma forma de potencializar o trabalho que a Caritas RJ já vinha fazendo com elas”, completou.
Ao final da apresentação, as refugiadas participantes estavam esperançosas de que algo pudesse ter tocado a consciência de seus compatriotas homens, que também encenaram situações de seu cotidiano e expuseram pinturas que ilustravam os problemas enfrentados para a construção da masculinidade. “O que apresentamos aqui é o que acontece na nossa sociedade”, contou a congolesa Mena. “Foi bom ter falado sobre isso para alertar as pessoas.”
O sorriso e a eloquência de outra refugiada da RDC, Nahomie, eram a prova de que, mesmo sem palavras, o teatro havia dado voz às aspirações das mulheres ali presentes. “Foi uma linda história, adorei”, comentou. “A mulher sofre no nosso país. Aqui no Brasil o homem não pode bater na mulher, mas no Congo é permitido e isso não está certo. A mulher tem que trabalhar e estudar. Essa era a nossa mensagem.”
Durante o processo, iniciado em abril, foram oito encontros realizados com as mulheres e dois com os homens, no intuito de se utilizar a metodologia do Teatro do Oprimido para potencializar o debate e buscar alternativas que possam transformar essa questão.
O Centro de Teatro do Oprimido é uma instituição que visa estimular o fortalecimento da cidadania e a justiça social através do Teatro do Oprimido, como meio democrático na transformação da sociedade, atuando junto a grupos vulneráveis e movimentos sociais, políticos e culturais, visando à articulação solidária de ações sociais, concretas e continuadas para a superação de situações de opressão e a transformação da sociedade.
(Redação + Agências)