Um filme sobre o maior crítico do que consideramos barbárie – Stefan Zweig, o refugiado no país do futuro.
Em 2014, vimos “O Grande Hotel Budapeste”, de Wes Anderson, trazer a nós um mundo de requintes prestes a ruir – uma analogia à Segunda Guerra Mundial. O longa vencedor de inúmeros Oscar, com fotografia impecável, design altamente criativo e um roteiro cheio de críticas ao autoritarismo foi baseado na obra de Stefan Zweig, como é anunciado em um quadro que antecede os créditos.
Não sendo suficiente para esgotar a genialidade e pensamento crítico do escritor austríaco Stefan Zweig, a diretora alemã Maria Schrader decidiu revisitar a biografia do autor utilizando recursos do documentário performático em “Stefan Zweig – Adeus, Europa”. A narrativa, então, revela um judeu tentando manter a normalidade de sua vida em plena fuga dos nazistas.
Ao contrário de personagens excêntricos de Anderson como Gustave H., vemos alguém tímido e que se recusa a usar a palavra “barbárie” para descrever um país. A concentração de questões políticas do filme ocorre na reconstrução do PEN Clube na Argentina – um congresso de autores realizado em Setembro de 1936. Em meio a muitos ataques distantes à Alemanha, Zweig se recusa a condenar qualquer país, pois, segundo ele, estaria cometendo o mesmo erro daqueles denominados “bárbaros”. Seu ponto de vista sobre resistência serve exageradamente para o presente: aquela que não causa risco nem arranhão ao seu opressor não é válida; serve apenas para chamar atenção de uma forma inútil.
Optando por se abster de opiniões e ataques longe do caos, Zweig, apesar de mandar uma quantia expressiva de cartas de recomendação para países receberem refugiados judeus, resolveu se exilar em Petrópolis. Ali, vendo uma linda paisagem e de clima mais ameno, escreveu seu livro “Brasil, um país do futuro”. Em suas viagens pela Bahia e Rio de Janeiro, considerou a mistura de raças, gêneros e etnias como símbolo do progresso, de um futuro pacífico. Maria Schrader faz um adendo: mostra um Stefan questionador da própria obra: ele mesmo pensou que talvez fora acrítico após receber críticas negativas. Mas como condenar alguém que tem essa opinião ao sentir a morte de milhares de semelhantes no país onde morava?
Em meio à angústia de refugiado e sensação de impotência, Stefan Zweig e sua esposa Lotte colocaram fim às suas vidas na residência de Petrópolis, em 1942. A casa pode ser visitada e fica na Rua Gonçalves Dias, 34. Apesar do tempo que passou, ainda temos algo que parece nunca mudar, como queria o escritor: a intolerância. Por isso, Zweig é fundamental e seu filme mostra genialmente a extrema necessidade de tal progresso. Em tempos atuais, ele continua sendo um dos melhores críticos do que nosso chamamos de barbárie em nossa confusão de esperança e pessimismo.
Nathália Barbosa