A Copa do Mundo acontece na Rússia e a nossa paixão pelo evento nos ajuda a conhecer o país melhor. Mas há ‘Rússias’ bastante vivas no país. Uma delas é a Colônia Santa Cruz, na região dos Campos Gerais do Paraná. A preservação das tradições marca a reportagem da RPC TV, filiada da Rede Globo no estado.

A imigração russa começou no Brasil a partir da década de 1870 e se manteve até a década de 1930 quando o fluxo migratório foi interrompido pela Segunda Guerra Mundial. Se hoje o pesquisador Igor Chnee crava que 1,8 milhões de imigrantes e descendentes de russos vivem no país, a chegada ao estado do Paraná, principal destino, era menos de 3 mil deles, sendo que muitos eram “alemães de Volga”, alemães que se situaram ao redor do Rio Volga, na Rússia, e lá construíram suas vidas.

O pesquisador Marcio de Oliveira credita essa imigração ao fato de em 1877 os alemães-russos passarem a ser obrigados a prestar o serviço militar russo. Durante décadas a saída de viventes do maior país do mundo não esteve ligada apenas a fatores econômicos e ao êxodo rural, como foi característico majoritariamente na Europa, mas perseguições políticas e religiosas foram fatores decisivos para quem precisou sair do seu país na virada do século passado.

Talvez poderíamos chamá-los hoje de refugiados. Foi o caso do pai de Nikita Saranov, líder da Colônia Santa Cruz, localizada na região dos Campos Gerais do Paraná (em Ponta Grossa, a 120 km de Curitiba). Nascido na China após fugir da Revolução Russa, temendo as perseguições religiosas que confessavam, novamente a família fugiu quando o cenário chinês também não era mais seguro. O ‘filme’ vivido na Rússia voltara novamente e a saída encontrada foi o Brasil, país visto como democrático, de liberdade religiosa e de boa terra para cultivo, segundo levantou Anastassia Bytsenko em sua pesquisa (já divulgada aqui).

russos campos gerais
Nikita Saranov, brasileiro e filho de russos-chineses. Crédito: RPC TV

Embora tenham constituído uma comunidade, os livros relativizam a abertura ao estrangeiro no Brasil do fim do século XIX. É preciso termos em mente que a possível abolição da escravatura necessitaria mão-de-obra barata e a elite agrária, especialmente a paulista, viu nos imigrantes boa saída. Com a demarcação de lotes e o ímpeto de povoamento, o Paraná conseguiu atrair imigrantes, mas o país não conseguiu evitar que sua propaganda na Europa fosse considerada enganosa no início do século, sanada apenas com o espírito escravagista cedendo certo espaço ao respeito mínimo ao direito do trabalhador.

Com tantas histórias de caminhos percorridos até encontrar a paz, a matéria traz um exemplo da constituição russa no Brasil. Tradições que permanecem enraizadas e que demarcam o Brasil como ‘país de imigração’. Confira a matéria da RPC TV aqui.

Otávio Ávila