O mundo tem se solidarizado e atacado, ao mesmo tempo, os inúmeros imigrantes e refugiados que chegam aos países buscando melhores condições de vida, ou mesmo chances de sobrevivência em meio ao caos da perseguição e da guerra. Independente da opinião, o mundo tem dado mais importância ao tema, sinal de que o fenômeno está se intensificando. Mas até onde as percepções sobre o aumento do fluxo de pessoas condizem com a realidade? A mídia, tal como essa, tem por obrigação clarear a visão da opinião pública.
O jornal The New York Times produziu recentemente uma matéria desmistificando algumas percepções que são alimentadas pela opinião pública. Segundo ele, ao mesmo tempo em que aumentam os fluxos de pessoas pelo mundo, crescem também falsas ideias que acabam por moldar as atitudes frente a este tema.

Divulgando um estudo de Harvard, o jornal revelou a percepção deturpada acerca da participação de imigrantes na população de alguns países. Nos EUA, os imigrantes correspondem a 15% da população, mas a percepção sobre esta participação se aproxima de 37%. E os números se repetem: se na Grã-Bretanha há 13% de população imigrante, a percepção chega a 32%. Na Alemanha, o número real é de 15%, tal como nos EUA, mas a percepção “apenas” dobra: 30%. E assim se repete em outros países pesquisados, como França, Suécia e Itália.

Embora a opinião pública esteja em alerta para o avanço de povos nos países mais ricos, há uma confusão na distinção entre quem tem recebido refugiados e quais países são compostos por população imigrante. Neste sentido, a Arábia Saudita, que adota uma política restritiva a refugiados, é o país que apresenta a maior porcentagem de população imigrante: 37%. Segue o ‘top 3’, Austrália e Canadá, com 29% e 22%, respectivamente. Quanto aos países que lideraram as diásporas pelo mundo em 2017, Índia, México, Rússia, China e Bangladesh ocupam os primeiros lugares, segundo a pesquisa de Harvard. A Síria, cuja diáspora está ligada à característica de refúgio, ocupa o sexto lugar.
Já em relação ao recebimento de refugiados, dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) indicaram que os três países são outros: Turquia, Paquistão e Líbano, próximos a lugares de conflitos, como Síria e Afeganistão. A questão geográfica pode ser explicada: parte da população que se encontra em situação de refúgio enfrenta dificuldades financeiras, sendo que a única opção de saída passa a ser as fronteiras terrestres, parecido ao que se tem visto com os venezuelanos em Roraima.
E o Brasil?
O Instituto IPSOS produziu uma pesquisa que repercutiu amplamente aqui. Entrevistando 29 mil pessoas de 38 países em 2017, o Brasil foi considerado o segundo país a ter menos noção de sua realidade. Entre as perguntas, uma delas pretendia saber a porcentagem da população carcerária de origem estrangeira. Dos 38 países, 36 apresentaram uma percepção acima do real. Embora o Brasil tenha ficado na média (com a percepção de 18% presos imigrantes, enquanto o número real é de 0,4%), é de se estranhar como a percepção da presença de imigrantes no Brasil passa distante da realidade.

Se o número de entradas tem aumentado, são consideráveis os fluxos de saídas desses mesmos indivíduos. Muito se falou sobre a chegada dos haitianos entre 2012 e 2015, mas pouco se falou sobre a saída deles nos últimos dois anos, após o agravamento da crise política. E se a porcentagem da população imigrante no Brasil fica abaixo de 1%, próximo também é o número de emigrantes que o país produz, o que nos deixaria com um ‘saldo neutro’ no jogo da mobilidade.
Cabe ressaltar que a pesquisa divulgada pelo The New York Times chegou a outro dado que explica parte do preconceito das sociedades acolhedoras: é superestimado o número dos imigrantes menos instruídos, de baixa qualificação, de baixa renda e seguidores do islamismo. Os resultados foram extraídos de outras nações, porém, serve como sobreaviso para aquelas que menos conhecem a sua realidade.
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Otávio Ávila