A vinda de haitianos do Chile para a cidade sul-mato-grossense, que faz fronteira com a Bolívia, é uma cena frequente nos últimos meses e evidencia a falta de estrutura da cidade no acolhimento dos migrantes. Confira o que saiu na mídia.
O Haiti é um país historicamente diaspórico. No século XXI, o fluxo de haitianos para outros países voltou a crescer após o terremoto de 2010, catástrofe que agravou os problemas sociais e deteriorou a qualidade de vida dos haitianos. Estes migrantes têm deixado o Chile desde que o país endureceu a legislação de imigração e veem o Brasil como uma nova oportunidade de reconstruir a vida. Em busca de morada, os haitianos pegam um ônibus em Santiago, capital chilena, para Corumbá. Conforme a Defensoria Pública da União (DPU), 90% dos migrantes e refugiados são do sexo masculino, assim como é a maioria do fluxo haitiano desde 2010. Segundo a Polícia Federal, entraram por Corumbá, entre janeiro a julho deste ano, cerca de 1,8 mil haitianos vindos do Chile. A falta de recursos e dificuldades relacionadas a documentação faz com que parte dos imigrantes permaneçam temporariamente em Corumbá, ao desembarcarem na cidade.
De acordo com matéria da BBC Brasil, as autoridades municipais informaram que houve redução de fluxo no mês de agosto, porém o defensor público federal João Chaves frisa que essa redução dos imigrantes em Corumbá não pode ser vista como algo permanente. Chaves complementa que as autoridades precisam estar atentas ao município fronteiriço, uma vez que a região pode enfrentar situação semelhante a Pacaraima, em Roraima, que recebe contingentes de venezuelanos desde 2016. Na cidade roraimense, a chegada dos refugiados vizinhos gerou alguns desafios nos serviços públicos da região, o que acabou gerando reações xenofóbicas na população local.

É nítido que a cidade é considerada transitória para os imigrantes que vêm do Chile, visto que eles chegam no município já com planos de ir para outros destinos, especialmente encontrar amigos ou parentes que migraram anteriormente. Entretanto, no período em que permanecem na cidade, os haitianos têm recebido apoio e auxílio de moradores, com abrigos e redução de valores no comércio da cidade. Efeitos do descaso e da falta de auxílio do poder público reclamada.
Conforme o depoimento do padre Marco Antônio para a BBC Brasil, “a intensa presença de haitianos em Corumbá por pouco não se tornou um caso de calamidade pública. Não havia estrutura nem ajuda nenhuma por parte do poder público. Os moradores não estavam esperando tanta gente assim, de maneira irregular. Mas, por fim, conseguimos nos organizar, por meio de doações e ajuda das pessoas daqui.”
Mesmo que o fluxo tenha sido reduzido, a falta de estrutura e a omissão do poder público deterioraram a situação da cidade. Logo, o Ministério Público Federal pediu que fossem adotadas medidas nas áreas de saúde e sanitária na região. Além disso, para atenderem à grande quantidade de haitianos que estavam em Corumbá, a delegacia da Polícia Federal do município chegou a criar uma força tarefa que aumentou o número de atendimentos diários aos imigrantes. Segundo a PF, os estrangeiros eram notificados, podendo permanecer no território brasileiro por 60 dias, tempo estipulado para que eles se regularizassem sua permanência. Após as notificações da Polícia Federal, os haitianos seguem viagem pelo Brasil com a esperança de buscar empregos em outros estados e recomeçar sua vida.
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Ana Luiza Petacci, sob supervisão de Otávio Ávila