Falar sobre migração e refúgio abarca muito mais do que a chegada dos imigrantes: engloba também a recepção dos locais. Além dos atrasos e problemas para que a inclusão dessas pessoas seja feita, elas também podem ser vítimas de xenofobia e outros atos preconceituosos desses nativos. E o Brasil não deixa de estar dentro dessa pauta de violência quando o assunto é o trato com os refugiados.

No entanto, não é possível tratar a situação como algo leviano. As populações locais não merecem isso, os que em nosso país buscam abrigo, muito menos. É imprescindível que desloquemos alguma atenção para as situações que vivemos atualmente.E assim, damos foco a Pacaraima e o que a imprensa trouxe de importante nos últimos dias.

Pacaraima, localizada ao norte de Roraima, na fronteira com a Venezuela, é a cidade porta de entrada dos refugiados vindos do país vizinho. O motivo para essa diáspora? A crise econômica que acomete a Venezuela desde 2013, que vem sendo responsável por tais movimentações e, consequentemente, por exaltar os ânimos entre venezuelanos e pacaraimenses.

No mês passado, um comerciante local foi agredido covardemente por criminosos (ao que indica venezuelanos) após ter sido assaltado foi o estopim para que mais de mil venezuelanos deixassem Pacaraima de volta para seu país, como apresenta matéria do Jornal O Povo Online. A população pacaraimense, como demonstra a reportagem, revoltou-se e ateou fogo contra os acampamentos venezuelanos, na BR-174, transformando em cinzas a maior parte dos pertences e levando essas pessoas a saírem do local.

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Incêndio no acampamento de venezuelanos em Pacaraima/RR. Foto: AFP / Isac DANTES

A situação pública da cidade, como assinala o professor de ciência política da Universidade Federal do Ceará (UFC), Clayton Mendonça Filho, na mesma matéria, está caótica, entrando em um verdadeiro colapso. Por isso, “as pessoas procuram um bode expiatório, e acabou acontecendo isso com os imigrantes”, diz.

Desta forma, moradores de Pacaraima vêm relatando a falta de segurança que estão passando após o aumento da criminalidade do local. Apenas após o fato ocorrido entre os refugiados venezuelanos e os moradores do município, as autoridades passaram a agir, explicou Mendonça Filho.

Assim, a falta de preparação do Brasil para essas situações está evidente. Oestrangeiro.org  recentemente produziu um clipping, afirmando a partir de uma matéria do G1, que “nunca houve tantos pedidos de refúgio no país como em 2017”. Foram mais de 30 mil pedidos feitos ao Conare, sendo que há apenas 14 funcionários “responsáveis pela diminuição da fila da fila que ultrapassa 86 mil estrangeiros em busca do status de refugiado no Brasil”.

O objetivo do Governo Brasileiro é transferir os venezuelanos para outros estados do país, onde eles ficariam em abrigos, poderiam receber carteira de trabalho, já que boa parte tem ensino médio e superior.

Segundo Clayton Mendonça Filho, o Brasil deveria tentar mediar a situação da Venezuela. Enquanto não houver resolução, o número de refugiados vai continuar crescendo.

Mayra Bragança e Myla Guimarães, sob supervisão de Otávio Ávila