Resumimos para você o que foi noticiado sobre as migrações no mês de março. Confira o nosso clipping:

Isenção unilateral de visto para quatro países:

O governo brasileiro dispensou de visto cidadãos dos Estados Unidos, da Austrália, do Canadá e do Japão. A isenção é unilateral, já que esses países mantêm a exigência do documento para os brasileiros.  De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, o decreto, publicado em edição extra do Diário Oficial da União no dia 18, entrará em vigor a partir de 17 de junho deste ano. O argumento do governo é que a medida deverá estimular o turismo no Brasil. A dispensa unilateral de visto, no entanto, sempre sofreu resistências de diplomatas que avaliam que esse tipo de gesto deve ser acompanhado de reciprocidade.

Ao comentar a isenção do visto para americanos entrarem no Brasil sem contrapartida para brasileiros ingressarem nos Estados Unidos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, que acompanhou a comitiva presidencial em viagem a Washington, disse que os brasileiros que vivem ilegalmente no exterior são “vergonha nossa”.  A declaração foi destaque na mídia, como nas revistas Veja, Exame e no jornal O Globo.

Outra declaração do governo  relacionada a imigrantes com repercussão negativa foi feita pelo presidente Jair Bolsonaro em entrevista à rede de TV americana FOX News e transmitida no dia 18. Bolsonaro disse que “a grande maioria dos imigrantes não tem boas intenções nem quer fazer bem aos americanos” . No entanto, no dia seguinte, o líder brasileiro voltou atrás em sua declaração e pediu desculpas, alegando que errou na classificação, de acordo com a revista Veja. “Aquilo foi um equívoco meu. Boa parte (dos imigrantes) tem boas intenções. A menor parte, não. Houve um equívoco da minha parte, peço desculpas aí”, afirmou Bolsonaro.

Na mesma entrevista, o presidente também criticou a política de imigração e acolhimento de refugiados do governo francês. “Quem é favorável ao socialismo deve olhar para a experiência da França, que abriu suas fronteiras a todo tipo de refugiado sem seleção ou filtro; é um mau exemplo”, disse.

Venezuela de portas fechadas:

A ordem do presidente venezuelano Nicolás Maduro de fechar a fronteira com o Brasil e a Colômbia em fevereiro continuou no mês seguinte, levando diversos imigrantes a procurar rotas clandestinas para entrar e sair do país. A medida de Maduro não apenas dificultou a travessia de centenas de pessoas, como também impossibilitou a entrada de ajuda humanitária brasileira no território venezuelano.

Foi apenas no dia 29 de março que o ditador venezuelano autorizou a entrada de ajuda humanitária no país. Segundo reportagem da revista Veja, a Federação Nacional da Cruz Vermelha recebeu autorização de Maduro para iniciar uma campanha humanitária e entregar suprimentos médicos nos hospitais do país. A ação deve beneficiar cerca de 650 mil pessoas que sofrem com a falta de recursos.

O que esperar da imigração venezuelana em 2019?

A Organização dos Estados Americanos (OEA) prevê que mais de 5 milhões de venezuelanos vão deixar o país até o final 2019. De acordo com o portal G1, esse fluxo se compara com os provocados por guerras como as da Síria e do Afeganistão.

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Caminhão com ajuda brasileira impedido de cruzar a fronteira – 23/02/2019 (Nelson Almeida/AFP)

Imigrantes somam menos de 4% da população mundial:

Um novo estudo sobre migração global mostra que as percepções sobre o tema podem diferir dos números registrados. Em entrevista à BBC Brasil, o pesquisador francês do Instituto Nacional de Estudos Demográficos (Ined) Gilles Pison afirma que menos de 4% da população mundial vive em um país que não é o seu de origem.

Pison conta que os fluxos migratórios provocados pelos conflitos na Síria, por exemplo, não produziram grandes mudanças no quadro global da migração internacional.

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Com 49,8 milhões de imigrantes, os Estados Unidos são o país que mais recebe imigrantes no mundo. Porém, analisando a relação entre imigrantes e população total de um país, os Emirados Árabes Unidos ficam no topo da lista fornecida pela ONU, com 88% da população sendo formada por imigrantes, seguidos por Singapura, Arábia Saudita, Suíça, Austrália, Canadá, Áustria, EUA, Alemanha, Reino Unido, Espanha e Holanda, respectivamente. A Espanha é nova na lista. Até a década de 1980, era um país de emigração. Hoje, 13% da população espanhola são imigrantes.

Tendência migratória:

A pesquisa realizada por Pison mostra também que, na última década, houve uma mudança na distribuição global de migrantes. Atualmente, pessoas que nasceram em países em desenvolvimento se mudam para países na mesma situação. O número de pessoas que fazem o movimento sul-sul ultrapassou a quantidade daqueles que fazem a mudança do país mais pobre para o mais rico, em 2017.

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Gilles Pison diz à BBC que “o objetivo da pesquisa não era dizer aos países como lidar com suas políticas de imigração, e, sim, mostrar informações e dar uma visão maior, com diferentes perspectivas.” Ele também diz que “a imigração se tornou uma questão sensível em vários países, e há muito medo injustificado”.

Congolês que fugiu da guerra fará parte do elenco da nova novela da  TV Globo:

Escalado para interpretar um refugiado haitiano na nova novela da TV Globo, Blaise Musipère, de 33 anos, traz em seu currículo a experiência de viver um refugiado também fora das telas. O ator da próxima novela das 18h, “Órfãos da terra”, chegou ao Brasil em 2008 após conseguir uma bolsa de estudos no país. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, a destruição e as perdas causadas pelas guerras fizeram com que Blaise decidisse deixar o Congo e tentar uma nova vida em terras brasileiras.

Blaise fez participações em “Malhação: Vidas Brasileiras” e na novela “Novo Mundo”. Mesmo longe da guerra, as dificuldades não acabariam. Blaise viveu – e ainda vive – diversos desafios de ser um refugiado no Brasil: a língua, a dificuldade de conseguir um emprego, o preconceito e a saudade da família. Antes de se tornar ator, o congolês foi garçom, pedreiro, lavou pratos e trabalhou na assistência técnica de uma empresa de telecomunicações, além de ter passado um período dormindo no banco de uma praça.  O congolês nunca tinha falado abertamente sobre seu passado. O ator diz que tinha medo de sofrer preconceito, pois percebeu “que algumas pessoas achavam que refugiado era fugitivo. Não se falava sobre o tema no Brasil”. Agora, Blaise afirma não ter medo ou vergonha, mas, sim, orgulho de falar de sua história.

 

Vitória Barbosa, Juliana Martinez e Myla Guimarães, sob supervisão de Fernanda Paraguassu.