A astronomia pode ser um manual ético e moral que destrói qualquer pretensão de superioridade ou algum tipo de diferença essencialista entre os seres humanos. A afirmação foi feita pelo prof. Dr. Mohammed Elhajji (UFRJ), coordenador do grupo de pesquisa Diaspotics sobre migração, durante a abertura da XXVII Semana de Astronomia, realizada no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), no Rio de Janeiro.

“O fato de nos situarmos metafísica, espiritual e cientificamente no Universo pode ser um excelente remédio contra a xenofobia, o racismo, a misoginia, a homofobia e contra qualquer olhar estreito sobre o mundo”, afirmou. Segundo Elhajji, isso ocorre a partir de sentimentos de privilégio e de insignificância que são despertados ao olharmos o Universo. A insignificância, explicou ele, ao ser encarada de forma positiva, é capaz de abrir mentes.

O professor avaliou que a astronomia é também a melhor aula que se pode oferecer a refugiados, no sentido de apresentá-los uma visão de como se posicionar no mundo. Esse tipo de conhecimento, destacou Elhajji, permite entender que narrativas patrióticas, nacionalistas, religiosas, sectárias e geográficas não resistem à primeira crítica que surge em contextos diversos.

Estudioso há décadas do processo migratório, Elhajji discorda da postura de olhar para o refugiado como vítima. Sem desconsiderar situações de povos que são dramáticas, o professor afirma que não se pode esquecer que os refugiados são pioneiros, muitas vezes grandes empresários e pessoas com grande capacidade de tomada de decisão. Ele citou como exemplo a ascensão social de filhos de operários na França. É possível notar maior ascensão entre filhos de imigrantes magrebinos do que entre filhos de outros operários em geral. Segundo Elhajji, há estudos confiáveis que mostram que a presença de imigrantes traz sinergia para a sociedade acolhedora. “A partir do momento em que o imigrante monta uma barraca para vender esfiha, ele está fazendo o dinheiro circular e essa é a riqueza numa perspectiva capitalista: o giro do dinheiro”.

Elhajji lembrou que o contexto da migração é opressor, mas nem por isso é limitante, e citou o teórico italiano Sandro Mezzadra, que defende que a migração é também um processo de produção de subjetividade. Exemplo de valor simbólico produzido pela migração, segundo o professor, é o de mulheres que saem de uma sociedade patriarcal, tradicionalista e opressora e chegam a outros países, conseguindo subverter a ordem estabelecida, ao encontrar direitos jurídicos consolidados para elas exercerem. Nesse sentido, Elhajji argumentou ainda que a astronomia, como ponto de partida para retirar fronteiras e eliminar diferenças, pode ser um paradigma explicativo sobre a vida.

Por Fernanda Paraguassu

Fotos: MAST.