Que gosto tem a saudade? Qual a relação entre comida, afeto, geopolítica e saúde? Questões como essas foram discutidas durante o seminário “Acolhimento à mesa: comensalidade e produção social de saúde entre refugiados”, realizado no dia 14/8, no campus de Manguinhos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Para muitos refugiados acolhidos no Brasil, a gastronomia tem sido mais do que um aspecto de integração cultural e econômica, mas também um fator de produção social de saúde para a família.
De acordo com o prof. Dr. Mohammed Elhajji (UFRJ), que participou do evento, a culinária é uma forma de decodificar a herança pessoal e subjetiva para o outro, traduzindo os conjuntos simbólicos em uma troca vinculativa. “O ser humano é uma máquina de produções e interações”, afirmou o professor, especialista em migrações transnacionais e comunicação intercultural.
A refugiada natural da Gâmbia Mariama Bah, há quatro anos no Brasil, destacou que o momento de comer com a família é uma forma de se comunicar. Quando estava com saudade de seu país de origem, Mariama contou que chamava seus vizinhos para comerem juntos. Estudante de Relações Internacionais, a gambiana fundou no Brasil a marca Sabaly, que trabalha com o empoderamento de mulheres imigrantes e refugiadas, e também participa do coletivo Feira Chega Junto, que foi parceiro do evento na Fiocruz, levando sabores latinos, africanos e sírios para o campus.
Para a venezuelana Maria Gabriela Moreno, de 33 anos, a saudade tem sabor de patacónes. À base de banana frita, frango e vegetais, o prato lembra o país que ela deixou há quase dois anos e é a sua receita para o recomeço da vida no país acolhedor.
O evento foi organizado pela turma de doutorado de 2018 do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz (PPGIS/ICICT/Fiocruz) e integra a jornada que comemora dez anos do programa.
Fotos: Karol Pinheiro