O Laboratório Memórias Territórios e Ocupações rastros sensíveis, LabMEMS do programa de pós-graduação de Psicossociologia em Comunidades e Ecologia Social (EICOS), UFRJ, lança a “A mulher que há em mim saúda e luta junto com a mulher que existe em você”, com objetivo de registar a luta das mulheres latino-americanas e mundiais, com um vídeo sobre o dia internacional das mulheres. O convite é para que mulheres possam realizar vídeos curtos, que deverá ter até 1 minuto, gravado na horizontal dizendo “Eu me chamo… XXX seguido de dez mulheres que marcaram sua vida”. O vídeo poderá ser enviado até 1º de março por meio do WhatsApp: (21) 99903-3237 e/ou (21) 965502545. 

A iniciativa surgiu do Laboratório Memórias Territórios e Ocupações Rastros Sensíveis, LabMEMS, com apoio do grupo o Diaspotics, vinculado à Escola de Comunicação e Cultura (ECO) e ao Programa de Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (EICOS), e financiamento da CAPES (Coordenadora de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O Labmems é coordenado por Samira Lima e Beatriz Akemi Taketi, ambas professoras no Programa de Pós-graduação EICOS, na UFRJ. O intuito da campanha é mais do que comemorar o dia internacional das mulheres, mas problematizar esforços e lutas das diversidades de grupos heterogêneos no contexto atual, tecendo uma rede feminina e feminista. “Queríamos marcar essa data, como um esforço de luta e combate à discriminação e à diferenciação, potencializando através das memórias: individual e social, que fizeram histórias singulares e políticas”, Beatriz Taketi contou ao oestrangeiro.org.

Crédito: Blog Unicamp

A pauta do grupo LABMENS apresenta discussões sobre mulheres negras, indígenas, de favelas, como uma maneira de produção de conhecimento acadêmico, mas como também de militância política. Catalina Revollo Pardo, integrante do grupo Diaspotics e LABMEMS, acredita que para os dois grupos é absolutamente fundamental a construção de um processo acadêmico integrado com a militância de uma luta antipatriarcal, antimachista e antirracista, num processo de construção da sociedade articulada como um lugar de reivindicação de direitos e problemáticas de diferentes mulheres. “Os dois grupos de pesquisa têm uma luta comprometida com a luta feminista”, ressalta. 

O grupo Diaspotics, coordenado pelo professor Mohammed ElHajji, busca analisar e compreender o fenômeno migratório, a partir dos fluxos e rastros subjetivos produzidos pelos imigrantes e suas comunidades diaspóricas. Como também produzir pesquisas sobre as mulheres imigrantes, que sofrem as múltiplas discriminações com as intersecções: raça, classe, geração, nacionalidade etc. Assim, há um esforço sobre a importância de ampliar discussões com diferentes vozes, principalmente para grupos marginalizados ocuparem espaços. O entendimento crítico de gênero, orientação sexual, etnicidade, nacionalidade, habilidade e idade não são unidades excludentes, mas também formam desigualdades sociais e diferentes formas de opressão. 

A campanha do Labmems pretende continuar acompanhado as intersecções na construção de ser um lugar de reivindicação das problemáticas plurais e singulares, trazendo as memórias e vozes interculturais. Mas nos perguntamos para quê? 

Catalina Revollo Pardo responde que o machismo mata, adoece, sobrecarrega fisicamente e psicologicamente a vida de muitas mulheres cotidianamente, além de gerar precariedades econômicas e sociais, com a dupla ou tripla jornada. O reconhecimento do pensamento crítico fomentado na educação e na militância é uma maneira de “ensinar a transgredir” (HOOKS, 2013). Taketi acrescenta que a campanha além de retomar a conscientização sobre discriminações, disparidades salariais, feminicídio, é uma possibilidade de produzir conhecimento para, posteriormente, formular políticas públicas. A luta pela libertação estará pautada na retomada do “lugar” de afetos e memórias porque “a mulher que há em mim saúda e luta junto com a mulher que existe em você”

Referências utilizadas:

AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

COLLINS, P. Pensamento Feminista Negro. Conhecimento, Consciência e a Política do Empoderamento. São Paulo: Boitempo, 2019. 

HOOKS, B. Ensinado a Transgredir – A educação como prática da liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2013. 

Catarina Gonçalves
Mestre em Psicossiociologia de Comunidades e Ecologia Social pela UFRJ. Membra do Diaspotics