Você sabia que oestrangeiro.org é um projeto vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, mais propriamente ligado ao grupo Diaspotics? Ao menos desde 2018 ele integra o quadro de projetos de extensão dessa universidade, mas sua existência vem de 2012, quando foram publicados os primeiros clippings de mídia e o grupo Brasil País de Imigração foi criado no Facebook. Ou seja, tudo que saía de importante sobre as migrações no país vinha parar neste blog/site, enquanto a rede social ajudava na integração de migrantes, comunidades diaspóricas e pesquisadores.
Lá se vão quase dez anos de atividades e hoje quase todo projeto com migrantes tem sua rede social, configurando um ecossistema comunicativo próprio dessas iniciativas universitárias. Afinal, muito já se reclamou sobre o papel das instituições de ensino superior, de que elas estariam voltadas para si mesmas enquanto o saber ali produzido poderia ser compartilhado e trazer benefícios práticos para a sociedade. Ainda que por vezes injusta a crítica e longe de qualquer utilitarismo, a universidade olhou para a questão e vem entendendo que o fazer está indissociável do ser visto em uma sociedade tomada pela exigência de visibilidade.
Por isso, este texto compartilha projetos de extensão de cada região do país que tratam a questão migrante prioritariamente, como forma de dimensionarmos o amplo esforço de acolhida por todo o espaço geográfico, social e simbólico brasileiro. Os cinco projetos foram destacados pela curadoria de pesquisadores realizada pela recém-criada Rede Nacional de Extensão Universitária com Imigrantes e Refugiados (REUNIR), como exemplos de boas práticas de construção de saber. Esses projetos foram apresentados no último fim de semana de setembro, no primeiro encontro da Rede (assista aqui).
Arquitetura Resiliente (Universidade Federal de Goiás)
Um projeto sobre migração que agrega a arquitetura. Parece incomum, mas o trabalho do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Arquitetura e Fluxos Migratórios contribui em questões fundamentais: atua por melhores condições para o abrigamento dos migrantes e promove passeios públicos de reconhecimento do novo território urbano a esses indivíduos. Como é interdisciplinar, o projeto abarca questões e cursos que respondem por direitos humanos, incluindo o acesso à saúde odontológica.
Conheça: Instagram.

Eirenè (Universidade Federal de Santa Catarina)
O Eirenè é o “Centro de Pesquisas e Práticas Pós-coloniais e Decoloniais aplicas às Relações Internacionais e ao Direito Internacional”. A atuação no ensino e na pesquisa dentro da UFSC busca a aproximação com as práticas de ativismo e de extensão a partir de estudos críticos fundamentados na questão racial. Na extensão, as práticas prioritárias são as de atendimento de imigrantes e refugiados, em parceria a Pastoral do Migrante de Florianópolis, e o advocacy, que articulou a criação do Centro de Referência de Atendimento aos Imigrantes e Refugiados (CRAI). Somam-se participações em cartilhas, documentários, campanhas e cursos.
Conheça: Site | Facebook | Instagram.

Fronteiras Cruzadas (Universidade Estadual de Campinas)
O projeto Fontié Ki Kwaze – Fronteiras Cruzadas surgiu em 2016 a partir de uma parceria com o coletivo de migrantes haitianos (USIH), mas se ampliou em uma rede que encampa outros projetos e grupos de pesquisa, centros de acolhida e movimentos sociais. Ao longo desses intensos anos, o Fronteiras Cruzadas se tornou referência em práticas de extensão universitária e ativismo ao oferecer o capital social universitário à disposição de migrantes em todas suas complexidades étnicas, artísticas, de sobrevivência e de luta. Especialmente no campo dos direitos humanos, o projeto tem se engajado em campanhas em prol do direito de permanecer no país da sul-africana Nduduzo, pela liberdade (conquistada!) da migrante togolesa Falilatou, além dos desdobramentos gerados após o assassinato do angolano João Manuel. Outros cursos, participações na mídia, articulações políticas e campanhas podem ser acessados no site do projeto ou nas redes sociais: Facebook| Instagram | Twitter | Youtube.

Somos Migrantes (Universidade Federal de Roraima)
O projeto pretende ser uma “rede (digital) de solidariedade entre o povos” para migrantes baseada na perspectiva educomunicativa, mediando a relação entre extensão e ensino/formação de jornalistas humanitários, na UFRR. O projeto existe desde 2018 e busca o engajamento e a divulgação de produções formativas e informativas de estudantes e parceiros migrantes e refugiados pelo Facebook e o Instagram. Além disso, outras ações da universidade compõem essa rede colaborativa voltadas para faces da linguagem (idioma e linguagem para surdos, em especial).

Taller Warao (Universidade Federal de Pernambuco)
Taller é a tradução de oficina em espanhol e abriga um trabalho de produção de artesanato organizado mediante processos de transmissão cultural, reconhecimento das tradições e das técnicas warao pela comunidade da etnia em Recife e Jaboatão dos Guararapes/PE. A iniciativa consiste num esforço coletivo de diversos grupos da sociedade civil, incluindo o Núcleo MIGRA, da UFPE, e se constitui como um centro social de organização popular que vincula a comercialização ao etnodesenvolvimento, em oposição ao empreendedorismo. A estruturação do projeto começou em 2021 e conta com uma casa que abrigará as mulheres warao por pelo menos mais três anos, garantindo um local para as atividades. Além da produção, o centro social promove aulas de português, atividades culturais para crianças e jovens, escutas coletivas e reuniões para tratar de pautas de interesse da comunidade.
Conheça o Instagram e a cartela de produtos do grupo.

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