A maioria dos imigrantes-refugiados com os quais converso me dizem que chegam na cidade sem perspectiva de produção de renda, ou seja, não têm, financeiramente falando, o mínimo para garantir a sua subsistência. Não importa os motivos de cada um para chegar até aqui, a questão econômico-financeira se impõe nos planos de curto prazo, pois pertence ao mais básico instinto de sobrevivência.
Contamos hoje, no Estado do Rio de Janeiro, com aproximadamente 7.500 imigrantes-refugiados. Há em andamento, cerca de 30.000 pedidos de refúgio indicando uma forte tendência de crescimento neste quantitativo. Este fato deveria se apresentar como uma questão de interesse público, de ordem socioeconômica, uma vez que o Estado apresenta uma taxa de desemprego da ordem de 36%, perfazendo um total de mais de 1 milhão de desempregados. O cenário atual não tem como absorver mais esta parcela da população. Diante deste quadro é possível vislumbrar um caminho possível de desenvolvimento sustentável para estas pessoas e para a economia do Estado? Creio que sim.

Há uma classificação da economia chamada Economia Criativa. Acredito nas possibilidades desta economia para dirimir os impactos socioeconômicos tanto para este grupo de pessoas, que precisam construir novas territorialidades quanto para a perspectiva econômica do Estado. Este tipo de economia possui a capacidade de mobilizar, de forma produtiva, o conhecimento, a cultura e a criatividade, onde o principal atributo do produto (ou serviço) resultante é o valor simbólico, uma vez que sua origem é cultural e cognitiva.
O baixo desempenho da economia local faz com que estas pessoas, muitas com nível superior completo, atuem no mercado de trabalho secundário, que é caracterizado pela informalidade, baixos salários e exigência de baixa qualificação.

Importante lembrar que estas pessoas fazem parte de uma economia étnico-cultural, buscando subsistir por meio de atividades que apresentam imbricamentos entre as dimensões econômicas e culturais. Alguns exemplos: gastronomia típica, música, dança, penteados, entre outros. A etnicidade do outro é transformado em produto étnico para a sociedade de acolhimento. Todos eles partilham um ethos comum, agregando valor econômico e simbólico por meio da criatividade.

Em termos de políticas públicas, o fomento à Economia Criativa do Estado fica por conta do RJ Criativo, órgão vinculado à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro. Esta Secretaria possui a proposta de ser um catalizador da economia criativa em todo o Estado. Se propõe a criar uma conexão entre empreendedores, redes e instituições, criando riqueza, seja ela econômica, social ou cultural, sendo capaz de gerar empregos, empresas e aumento de produtividade de segmentos diversos. Numa breve visita à sua página eletrônica nos deparamos com termos como “colaboração”, “diversidade”, “desigualdade” e “diversidade cultural”, mas apesar disso, não há um único projeto voltado para o grupo de imigrantes-refugiados na cidade.
Há muito que pode ser feito. Desenvolver políticas públicas que reconheçam os imigrantes-refugiados presentes na cidade como uma classe criativa (e produtiva) pode ser um caminho viável para facilitar a vinculação socioeconômica-cultural destas pessoas na cidade, podendo, ainda, contribuir para o desenvolvimento econômico e social do Estado. Acredito que melhorar a qualidade de vida destas pessoas possa favorecer, nos interstícios das nossas cidades, uma nova urbanidade, pois é no uso de uma cidade que ela é construída.
Referências:
FLORIDA, R. A ascensão da Classe Criativa. Porto Alegre: L&PM, 2011.
HARTLEY, J. Criative Industries. Oxford: Blackwell
http://cultura.rj.gov.br/rio-criativo-virou-rj-criativo-entenda-o-porque/ acesso em 09/08/2021
http://cultura.rj.gov.br/rj-criativo-economia-criativa/ acesso em 10/08/2021; http://riocriativo.com.br/ acesso em 10/08/2021
