No último domingo, dia 16 de outubro, teve fim a 27ª edição da Festa do Imigrante, evento anual organizado pelo Museu da Imigração do Estado de São Paulo. Já reconhecida no calendário paulista, “a Festa”, como é chamada por alguns visitantes, traz ao espaço da antiga Hospedaria de Imigrantes do Brás uma vasta programação composta de apresentações musicais, experiências gastronômicas, artesanato e oficinas. Nos quatro dias de sua realização (08/10, 09/10, 15/10 e 16/10), um publico de mais de 30 mil pessoas pôde presenciar importantes expressões e produtos oferecidos pelas comunidades de migrantes internacionais e seus descendentes.

O Museu da Imigração é uma instituição de cultura vinculada à Secretaria de Cultura e Econômica Criativa do Estado de São Paulo. Está situado em uma parte do edifício que abrigou a antiga Hospedaria do Brás, instituição que funcionou por quase um século (1887 – 1978) e abrigou mais de 2,5 milhões de migrantes nacionais e internacionais. Marco histórico de uma política pública voltada à migração no país, a Hospedaria tinha como função acomodar, alimentar, medicar, registrar e encaminhar migrantes para o trabalho, seja no campo ou nas cidades. Atualmente, o museu divide espaço com o Arsenal da Esperança, casa gerida pelo SERMIG – Fraternidade da Esperança, que abriga e acolhe a população em situação de rua. O complexo foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) em 1982 e pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP) em 1991, constituindo-se enquanto museu em 1993.

Imagem: Chris Ceneviva e Victor Herege. Divulgação Museu da Imigração

Promovida pelo Museu desde 1996, a Festa nasceu a partir do desejo das comunidades de compartilhar suas heranças e culturas e é fruto dessa relação construída desde o início de nossas atividades. Para migrantes internacionais e seus descendentes, a festa foi, desde o início, uma rica oportunidade de apresentar a gastronomia, a música, o vestuário, a dança e o artesanato característicos de seus países de origem. Esses costumes e saberes, ligados à experiência da migração, são elementos dinâmicos da cultura, constantemente refeitos e reelaborados. Esse legado integra o patrimônio material e imaterial dessas comunidades e do processo migratório para São Paulo. 

Imagem: Henrico Cobianchi

Nos últimos 26 anos, a Festa vem se modificando. Se consideramos para referência a linha histórica desde 2011, é possível acompanhar um crescente em vários aspectos. Em 2011, haviam 24 nacionalidades representadas, 9 mil visitantes, 30 expositores e 26 apresentações musicais e de dança. Esse mesmo número tem um salto em 2016 para 50 nacionalidades representadas, 21 mil visitantes, 72 expositores e 45 apresentações. Nesta última edição, os números cresceram ainda mais, com 54 países representados, 31 mil visitantes, 100 expositores de gastronomia e artesanato e 68 apresentações. Trata-se de um momento culminante, de maior circulação de pessoas no museu, em que a instituição demonstra sua capacidade de mobilizar um grande público em torno do tema migratório. 

Imagem: Chris Ceneviva e Victor Herege. Divulgação Museu da Imigração

A partir deste ano, o Centro de Preservação, Pesquisa e referência (CPPR) do museu passou a oferecer durante a festividade uma programação voltada a elucidar o trabalho técnico realizado por diferentes equipes da instituição. O Núcleo educativo desenvolveu a atividade “Poesia no Concreto”, um convite para produzir uma intervenção artística a partir de notícias vinculadas às condições enfrentadas pelas populações migrantes no Brasil. Além disso, ofereceu durante a festa a atividade “Ilustrando a História”, que partiu da mediação de leitura do livro “Contos encantados da América Latina” para trabalhar com ilustrações. 

A equipe de pesquisa, por sua vez, realizou duas atividades: “Expedição Etnográfica pela Festa do Imigrante”, em que os participantes foram instigados a caminhar pelo evento, observando os grupos culturais presentes, sob novos ângulos e conceitos vindos da antropologia e, “Dicas de pesquisa no acervo digital do MI”, em que oferecemos ao público noções gerais sobre pesquisas em nossos sistemas de busca e uma breve apresentação sobre contextos migratórios importantes para um levantamento eficiente de informações.

Imagem: Chris Ceneviva e Victor Herege. Divulgação Museu da Imigração

A equipe de preservação levou ao público a oficina de encadernação “O fio das memórias”, propondo ao visitante a realização da confecção de um álbum simples. Por fim, toda a equipe técnica se organizou para oferecer a atividade “Roda de Conversa – Formação e Trabalho em Museus”, com o objetivo de promover a troca de informações com pessoas interessadas em conhecer mais o trabalho cotidiano em uma instituição como o MI.

O Museu da Imigração sempre entendeu a importância da relação com as comunidades migrantes para suas atividades e programações. Isso se reflete na Festa, mas também em atividades como os “Encontros com o acervo”, seções em que organizamos encontros de comunidades migrantes com os objetos do nosso acervo, com o objetivo de criar espaços de troca com essas comunidades e produção de conhecimento compartilhado. Além disso, a utilização de espaços, como salas e auditório, pelas comunidades migrantes da contemporaneidade, tem sido uma importante ferramenta de pesquisa e manutenção de vínculos da instituição com essa população. 

Após anos de redução da circulação imposta pela emergência sanitária e social da COVID-19, a 27ª Festa do Imigrante mostrou mais uma vez a potencia existente no tema migratório enquanto mobilizador de afetos, pessoas, conhecimento, esforços e recursos. Foi mais uma oportunidade para o Museu da Imigração se colocar à disposição da sociedade, reafirmando seu lugar na rede que sustenta a migração enquanto agenda fundamental para todas e todos em São Paulo.