Cresce número de estudantes estrangeiros na UTFPR em Pato Branco.

Em 2014, 5.100 universitários de outras nações obtiveram bolsa para estudar aqui – 150% a mais do que em 2009. O campus pato-branquense da UTFPR tem sentido esse efeito. Desde 2011 a instituição recebeu 28 alunos de 11 países diferentes, sendo que metade deles nos últimos dois anos.

Atualmente estudam no campus três alunos da Guiné-Bissau, um de Timor-Leste, dois da Colômbia e um de Angola. Desses, seis recebem algum tipo de bolsa do governo brasileiro para estudar e se manter no país – seja pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) ou Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

E é justamente esse tipo de benefício que atrai cada vez mais estudantes ao Brasil. “Para nós é muito difícil fazer pós-graduação na Colômbia. Existem poucas opções, e temos que pagar muito dinheiro”, afirmou a licenciada em química Sandra Albornoz, que, junto com o namorado William Sánchez, está cursando o mestrado em tecnologia de processamento químico e bioquímico da UTFPR.

“Quando nós falamos na Colômbia que no Brasil não pagamos [a universidade] e ainda recebemos bolsa, eles acham que bolsa é não pagar a matrícula ou despesas do que a universidade pede para nós. Nós falamos ‘não, a bolsa é de manutenção, a educação no Brasil é gratuita’, e eles não acreditam”, contou.

A maior parte dos estudantes e pesquisadores estrangeiros que vieram ao campus Pato Branco são de países que falam o português – como Angola, Guiné-Bissau, Timor-Leste, Cabo Verde e Moçambique –, mas os países hispânicos, como Colômbia, Argentina, Bolívia e Chile têm uma grande participação. Houve também dois alunos europeus: um alemão (2012) e um francês (2014).
Os estudantes que não falam o português precisam primeiro aprender o idioma, para então se habilitar a algum curso no Brasil. Além disso, para se candidatar, é preciso apresentar previamente um pré-projeto científico e obter a tutela de um professor orientador. Só então a universidade avalia se aceita ou não o aluno.

Produção de conhecimento

O objetivo do governo brasileiro é incrementar a produção científica do país ao importar conhecimento por meio de estudantes e pesquisadores estrangeiros – muitos dos quais vêm diretamente para contribuir em projetos em andamento nas universidades.

O colombiano William Sánchez diz que se sente colaborando com a produção de conhecimento. “O programa de convênio de pós-graduação do governo do Brasil é importante para isso. A gente sabe como fazer algumas coisas, vocês sabem outras. Então a gente troca experiência. Na nossa área, isso ocorre tanto na parte teórica quanto na experimental”, destacou. “Então nós podemos contribuir com o desenvolvimento de algum projeto que pode ser aplicado no Brasil, e a partir dele temos uma ideia nova para aplicar no nosso próprio país”.

A responsável pelo Departamento de Relações Interinstitucionais do campus, Cassia Belokurows Walter, confirma. “As linhas de pesquisa desenvolvidas nas mais variadas universidades do mundo, se compartilhadas, acabam sendo aprimoradas. O que temos percebido com a vinda de alunos de pós-graduação é que o conhecimento trazido por esses alunos contribui e cria alternativas viáveis para o maior desenvolvimento das pesquisas”, ratificou.

Intercâmbio

O número de alunos brasileiros que vão estudar no exterior, no entanto, ainda é maior que o de estudantes ‘importados’. Só em 2014, 73 alunos do campus da UTFPR em Pato Branco foram a outros países, sendo a maior parte (68) pelo programa Ciência Sem Fronteiras.

Mas o objetivo da universidade é equilibrar esses números. “A UTFPR tem trabalho com esse objetivo. Anualmente, são ofertadas dezenas de vagas para alunos estrangeiros, pois acreditamos que o conhecimento e principalmente a experiência de vida desses alunos pode contribuir para o aprimoramento na busca de conhecimento”, acrescentou Cassia.

Graduação

Embora o foco seja trazer alunos estrangeiros para as pós-graduações, alguns estudantes vêm ao Brasil para obter o primeiro diploma. O angolano Ekuikui Rosa veio em 2012 para cursar a graduação em engenharia da computação na UTFPR. Nessas circunstâncias, entretanto, ele não recebe bolsa.

“O desafio de me formar em um país desenvolvido foi o que me trouxe aqui”, declarou. “São cinco anos, então devo me formar em janeiro de 2017, se Deus quiser. É um curso bastante pesado. Quase pensei em desistir, mas agora estou conseguindo”.

Embora ele tivesse a facilidade da língua, que é a mesma do Brasil, ele estranhou o ambiente. “A região de Pato Branco é bem diferente do que eu conhecia do Brasil. No quesito de cores, eu cheguei aqui e me senti o único negro [risos], mas de preconceito, não vi nada. Agora já me adaptei”.

Após se graduar, Ekuikui pretende voltar a Angola, mas não descarta regressar para cursar alguma pós-graduação. “É mais um desafio”.

Harald Essert

(Diário do Sudoeste – 20/03/2015)