Após três anos, refugiada colombiana pôde abraçar filhas sem medo.

Quarta-feira passada (10/06/2015), quando o relógio completava 09h47min, Marisabel Hernandez Villada, 25, viu suas filhas – Mehira Daniela, 8, e Laura Cristina, 6 – como se fosse a primeira vez. Mesmo de longe, e depois de três anos – sem carinho e afago -, a mãe reconheceu suas “niñas”. Os 4 mil quilômetros que as separavam, foram reduzidos a, pelo menos, 20 metros. Naquele momento, o único obstáculo para a corrida ao abraço era uma “cerca” de proteção. Ela dividia o saguão e o hall de desembarque do Aeroporto Salgado Filho.

“Dani, Laurita. Aqui!’, gritava Marisabel. Naquele momento, as duas correram ao encontro da mãe. As lágrimas que moldavam o rosto de mãe e filhas, eram o reflexo de três anos de falta de tato e excesso de sofrimento, que sumiram naquele instante, dentro de um abraço intenso. Foram praticamente atropeladas por pessoas que também ansiavam por um carinho, um aconchego conhecido. Mas, nada importava. Finalmente, Marisabel tinha, em seus braços, suas filhas. Podia, enfim, protegê-las e demonstrar todo seu amor, que antes era refletido apenas pela telado celular.

Protagonistas de uma cena igual ao último capítulo de uma novela das nove, chamavam a atenção de quem passava. Uma senhora parou ao meu lado e teve que conter as lágrimas, que insistiam em denunciar sua emoção. Ela ficou ali, parada, como um espectador que torcia pelo final feliz da história. E aconteceu. Depois dos trâmites burocráticos, a mãe pôde, enfim, levar suas “niñas” para casa. Lá, a família aguardava com almoço na mesa e saudade no coração.

Agora, com suas meninas em casa, Marisabel pode dormir tranquila, o que não faz desde domingo. Afinal, quanto mais as horas passavam, mais perto suas “niñas” estavam.

O drama de Marisabel

A história de Marisabel foi contada no começo de fevereiro pela reportagem da Folha do Mate (Veja aqui nosso post), que ontem, acompanhou em Porto Alegre, o reencontro. Natural da Colômbia, a mãe é uma refugiada, protegida pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). Para fugir de pessoas que a maltratavam e juravam que não veria suas meninas novamente, chegou no Brasil. Desde outubro de 2013, ela vive com a família (pai, mãe, irmãos e uma das filhas) em Venâncio Aires, mas, em função da legislação colombiana, teve que “deixar” Mehira Daniela e Laura Cristina.

Segundo a Lei, como a mãe “abandonara” a casa, o pai é que teria o direito da guarda. Motivo nunca aceito por Marisabel, que não deixou de lutar pelas meninas. Como o ex-marido faleceu em março, ela teria suas filhas de volta. Desde lá, lutava para trazer as meninas à Capital do Chimarrão. Idas para São Paulo tornaram-se frequentes para iniciar os procedimentos de autorização para a vinda das filhas. Inicialmente, a previsão da chegada de Dani e Laurita era para abril, o que aumentava a aflição de Marisabel. Graças ao empenho da Acnur, ontem, elas desembarcaram em terras brasileiras e devem permanecer aqui, ao lado da mãe.

Giuliane Giovanaz 

(Folha do Mate – 11/06/2015)