A mulher imigrante sofre duplamente pelo fato de ser mulher e imigrante. A matéria divulgada na revista Exame, “As mulheres imigrantes vencem barreiras no mercado de trabalho” (24/08/18), discute o empoderamento feminino. A inserção da mulher no mercado de trabalho promoveu um aumento econômico significativo. As mulheres têm se destacado por exercerem diversos papéis como mãe, trabalhadora e ainda outra jornada com afazeres domésticos.

De acordo com o estudo ‘Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo’, da Organização Internacional de Emprego no Mundo – a diminuição das diferenças de gênero no mercado de trabalho poderia aumentar o PIB brasileiro em 3,3%, ou R$382 bilhões, e acrescentar R$131 bilhões às receitas tributárias. Para isso, seria necessário o Brasil reduzir em 25% essa discrepância no mundo do trabalho até 2025.

mulheres trabalho 4

 

O estabelecimento de políticas públicas de combate às desigualdades passa pela inclusão de mulheres no aparato estatal, que permita a inovação política e uma mudança cultural de democratização na relação entre homens e mulheres no espaço doméstico e público, pois a misoginia é um fenômeno sociológico e político. Segundo Phumzile Mlambo-Ngcuka, chefe da agência das Nações Unidas (ONU), mulheres enfrentam desigualdades no acesso aos empregos e à educação, sobretudo porque gastam mais tempo que os homens em tarefas domésticas:

“Queremos construir para as mulheres um mundo do trabalho diferente. Conforme as meninas cresçam, elas devem ser expostas a um vasto leque de carreiras e encorajadas a fazer escolhas que as levem além dos serviços tradicionais e de cuidado, para profissões na indústria, na arte, no serviço público, na agricultura moderna e na ciência”.

Desigualdade de gênero

As mulheres têm enfrentado vários problemas referentes às desigualdades de gênero no mercado de trabalho. De acordo com os indicadores do IBGE, as mulheres no Brasil ainda estão recebendo ¾ menos que os homens e ocupando as mesmas posições. Em 2016, 62,2% dos cargos gerenciais, tanto no poder público quanto na iniciativa privada, eram ocupados por homens enquanto 37,8% ficavam com as mulheres. A pesquisa do IBGE também mostra que as mulheres estudam em média 8 anos, frente a 7,5 anos dos homens.

mulheres trabalho 2
Crédito: Agência IstoÉ

Segundo os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), as mulheres têm uma sobrecarga maior com os serviços domésticos do que os homens. Os dados revelam que 90% das mulheres assumem os serviços domésticos contra 51% dos homens com as mesmas atribuições. As mulheres dedicam 25,3 horas semanais a faxina, enquanto os homens 10 horas semanais. Existe uma desigualdade entre gêneros apesar das conquistas dos direitos das mulheres através dos movimentos feministas.

Mulheres imigrantes em pauta

As mulheres imigrantes também sofrem com o acúmulo na realização das tarefas domésticas e o cuidado com os filhos, além disso encontram dificuldades para ingressar no mercado de trabalho local pela barreira da língua, pouca ou nenhuma política pública de acolhimento e amparo, falta de creches, por questões legais quanto à documentação e regularização da condição de imigrante, e, assim como as brasileiras, recebem os menores salários.

Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE mostra que as crianças de 0 a 3 anos que pertencem a renda familiar mais baixa do país tem um índice de 33,9 de crianças fora das creches, pois não existe vaga ou creche perto do local onde vivem. Os dados demonstram que as imigrantes, assim como as brasileiras, não têm acesso ao serviço de creches como deveriam.

mulheres trabalho 6
Feira Chega Junto, em Botafogo. Foto: Reprodução do Facebook

A discussão sobre o empoderamento das mulheres e empreendimentos dos imigrantes têm sido uma válvula de escape para o enfrentamento da solução para a mulher imigrante. Portanto, é importante ter um olhar crítico sobre essa questão. Nem toda imigração é bem sucedida do ponto de vista laboral e nem todas as imigrantes são microempreendedoras, embora uma inserção maior das mulheres brasileiras e imigrantes poderiam gerar um número bem mais significativo para o crescimento econômico do país.

A realidade não é tão positiva para as mulheres, que atualmente tem o maior nível de desemprego do país, atingindo 6% da população feminina comparado a 5,2% dos homens. Embora os números de pessoas que trabalhem por conta própria não possam ser contabilizados, o microempreendedorismo pode sim ser uma das saídas para o desemprego e a independência financeira da mulher imigrante. Vale lembrar que não é o único meio, mas uma possibilidade para reanimar a economia brasileira.

Catarina Gonçalves

Colaborou Sheila Ferreira Pinto