A autora do texto abaixo é Lilia Moritz Schwarcz. Antropóloga, historiadora, professora da Universidade de São Paulo e da Princeton University, atua também como colunista do jornal Nexo e é curadora do Museu de Arte de São Paulo (MASP). A renomada pensadora tem comentado em seus perfis das redes sociais alguns atos e declarações do governo Bolsonaro que dizem respeito a sua área de estudos e pesquisas. A respeito delas, a professora acaba de lançar seu novo livro Sobre o autoritarismo brasileiro (Companhia das Letras).
Leia o comentário abaixo:
Estereótipos são generalizações que as pessoas fazem em cima de comportamentos ou características de outros grupos sociais. Estereótipo significa “impressão sólida”, e em geral se dirige a pessoas que têm outras culturas, raças, religiões oi (sic) gênero. Em geral depreciativos, os esteriótipos costumam vicejar sem que se tenha maiores conhecimentos sobre os grupos sociais criticados e com frequência ironizados. O conceito de estereótipo foi criado em 1922, pelo escritor estadunidense Walter Lippmann, que vinculou estereótipos a rótulos sociais via de regra negativos. Essa é também uma noção preconcebida e autoritária, uma vez que não prioriza o debate; prefere o deboche. Pois bem, nesses últimos quinze dias, Bolsonaro ironizou os japoneses duas vezes. No dia 15 de maio, ao ser abordado por uma rapaz com feições asiáticas, no aeroporto de Manaus, e que pediu para tirar uma self com ele, o Chefe do Executivo fez um gesto com a mão e exclamou: “tudo pequeno aí?”. Logo no dia 24 de maio, repetiu o estereótipo ao discursar sobre a Reforma da Previdência: “Se for uma reforma de japonês, ele (Paulo Guedes) vai embora. Lá (no Japão) tudo é miniatura”. Esteriótipos são motivo para muita dor e sofrimento. Um presidente que insiste numa brincadeira sem graça, incorre no perigo de transformar o deboche, em preconceito social. É lamentável que Bolsonaro continue não atuando como presidente de uma nação composta por muitas culturas (não só a dele). Perdemos todos nós.
