O tema migratório teve grande destaque nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que terminam neste domingo (8) com a cerimônia de encerramento a ser realizada no Estádio Olímpico da capital japonesa. Em uma edição diferente, em meio à pandemia de Covid-19 e sem a presença de turistas e voluntários estrangeiros, diferentes aspectos da maior competição esportiva do planeta encontraram a questão da migração sob distintas perspectivas. Aqui, fazemos uma retrospectiva com os principais momentos onde as Olimpíadas mostraram ser também um palco de celebração da diversidade cultural e da inclusão.
Naomi Osaka escolhida para acender a pira olímpica
A tenista japonesa Naomi Osaka foi a atleta escolhida para acender a pira olímpica nos Jogos de Tóquio. A eleição teve um grande simbolismo: além de ser mulher, Naomi é uma japonesa preta migrante: filha de uma japonesa e um haitiano, nasceu em Osaka, no Japão, e aos 3 anos migrou para os Estados Unidos, onde vive atualmente.

A atleta abriu mão de sua nacionalidade americana para poder defender a bandeira do Japão nos Jogos. A lei japonesa determina que um cidadão que tenha mais de uma nacionalidade precisa, até completar os 22 anos, escolher uma delas. Naomi tem hoje 23 anos.
Osaka foi a primeira tenista japonesa a conquistar um Grand Slam – ao derrotar a multicampeã americana Serena Williams na final do US Open em 2018. No ano seguinte, conquistou também o Australian Open, tornando-se a primeira asiática a chegar à liderança do ranking mundial.
Nas quadras, Naomi foi eliminada nas oitavas de final pela tcheca Marketa Vondrousova por 2 sets a 0 (6/1 e 6/4). No entanto, a cena de uma mulher japonesa, preta e migrante acendendo a pira olímpica na cerimônia de abertura ficará para sempre na memória dos amantes do esporte.
Equipe Olímpica de Refugiados
Pela segunda vez na história das Olimpíadas, a equipe de atletas refugiados esteve presente nas competições. Foram 29 esportistas que competiram em 12 modalidades. Selecionados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e com apoio do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), somados aos 6 esportistas paralímpicos que disputarão em 4 esportes, os atletas são provenientes de 11 países: Síria, Congo, Sudão do Sul, Eritreia, Venezuela, Irã, Afeganistão, República Democrática do Congo, Iraque, Camarões e Burundi, representando os cerca de 82 milhões de refugiados espalhados pelo mundo.
A delegação de atletas refugiados foi a segunda a se apresentar nas cerimônias de abertura e encerramento, empunhando a bandeira branca com o símbolo dos Jogos Olímpicos.

Entre os integrantes da delegação, destaque para o judoca Popole Misenga. O atleta, nascido na República Democrática do Congo, teve sua vida fortemente afetada pela guerra civil do país, que deixou diversos refugiados e mortos, entre os quais sua mãe. Após fugir de Bukavu, sua cidade natal, em direção à capital Kinshasa, descobriu o judô e se apaixonou pelo esporte.
Vive no Brasil desde 2013, quando pediu asilo após participar do Mundial de Judô no Rio de Janeiro, e treina no Instituto Reação, do judoca brasileiro Flávio Canto. Popole, que também participou das Olimpíadas de 2016, foi desclassificado dos Jogos de Tóquio após derrota para o húngaro Krizstian Toth. No entanto, não desanima e já pensa nas Olimpíadas de Paris, em 2024.
A atleta que ficou mais perto de conquistar a primeira medalha para a equipe de refugiados foi a iraniana Kimia Alizadeh. A lutadora de Taekwondo, que no caminho desclassificou a bicampeã olímpica Jade Jones, chegou até a semifinal. Na decisão pelo bronze, perdeu de forma apertada para a turca Kubra Ilgun e ficou a somente um chute da medalha olímpica. Esta foi a segunda Olimpíada disputada por Alizadeh. No Rio de Janeiro, ela já havia entrado para a história ao conquistar o bronze e se transformar na primeira iraniana a ganhar uma medalha.
Atletas migrantes
Em um mundo marcado por constantes fluxos humanos e identidades plurais, não poderíamos deixar de ter nos Jogos Olímpicos de Tóquio a importante presença de atletas naturalizados e filhos de migrantes. Vale lembrar que esse não é um fenômeno recente: o primeiro estrangeiro a representar o Brasil nas Olimpíadas, por exemplo, foi o alemão Sebastião Wolf, nos Jogos de 1920.
Atletas migrantes ou filhos de migrantes tiveram desempenho de destaque nos Jogos de Tóquio. A estadunidense Sunisa Lee, filha de migrantes da etnia hmong, conquistou o ouro na prova individual geral de ginástica feminina. O filho de imigrantes cubanos Éddy Álvarez, jogador de beisebol, foi o porta-bandeira dos Estados Unidos na cerimônia de abertura.

No atletismo, dos 33 medalhistas de ouro, 12 são filhos de migrantes, refugiados ou naturalizados, de acordo com levantamento do O Globo. A natural de Oromia (Etiópia) Sifan Hassan conquistou para a Holanda o primeiro ouro numa prova de longa distância. Malaika Mihambo, filha de um imigrante da Tanzânia, se tornou a primeira mulher negra a vencer no atletismo representando a bandeira alemã.
Em nosso país, migrantes também contribuíram e contribuem para o desenvolvimento dos diferentes esportes e tiveram grande representatividade nos Jogos. No tênis de mesa, esporte que chegou ao Brasil nos anos 40 através de imigrantes japoneses, dos oitos atletas brasileiros que competiram em Tóquio, sete são descendentes de japoneses. Se algumas modalidades possuem uma relação umbilical com comunidades estrangeiras, outras veem esse vínculo começar a surgir. Foi em Tóquio que tivemos o primeiro estrangeiro na história a defender a seleção masculina de vôlei. Trata-se do ponteiro cubano Leal, nascido em Havana e que se naturalizou brasileiro em 2015. A seleção brasileira chegou até a semifinal, quando foi derrotada pela equipe do Comitê Olímpico Russo, treinado pelo finlandês Tuomas Sammelvuo.
A festa continua com os Jogos Paralímpicos
As Olímpiadas terminam neste domingo (8), mas o espírito olímpico não. Entre os dias 24 de agosto e 5 de setembro, acontecerão os Jogos Paralímpicos. Novas histórias de superação de atletas naturalizados, refugiados e filhos de imigrantes serão conhecidas e festejadas, lembrando uma das principais funções do esporte: a celebração da diversidade humana, a maior riqueza de nossa espécie.

interesante, tomare parte de su escrito y lo dire en mi programa de radio de migrantes para migrantes aqui en Brasil..
Que bueno, Oswaldo! Si se puede, comparte el episódio con nosotros, queremos escucharlo 🙂