Imigrantes ou migrantes? Refugiados, apátridas, asilados, fluxo pendular. Crise de quem? Ilegais ou não?

Quem se envereda pela escrita sobre migrações descobre que as nomenclaturas e as imagens utilizadas definem os sentidos do texto e os consequentes significados construídos pela audiência.

Se você jogar no Google o termo “imigração” e buscar as imagens associadas a ele, as primeiras imagens estarão vinculadas às chegadas de indivíduos com coletes salva-vidas chegando pelo mar, filas de gente e grandes “ondas” humanas que remetem a invasões aliadas ao componente da miséria e do problema delas decorrentes.

O mecanismo de busca realizado dessa forma mais abrangente possível (“imigrantes”) é um exercício de materializar aquilo que outrora está na mente do leitor comum. Migrantes são quem? Vem e vão para onde? A naturalização ou a generalização do fenômeno acabam por reduzir as múltiplas equações dos movimentos, entre a ida e a chegada, do inter ao transcultural.

Durante anos, organizações, coletivos e acadêmicos especialistas em migrações têm desenvolvido conceitos e técnicas que auxiliem o produtor de conteúdo a uma representação – e construção de conhecimento – balizada nos direitos e na dignidade humanas.

O intuito deste texto é apresentar a quem chega, resgatando e apresentando materiais divulgados sobre o tema. Esses guias apresentam conceitos e números, traçam mapas da mobilidade, de organizações e legislações necessárias ao tema, além de guias para entrevistas e registro fotográfico que contribuem na distorção de estereótipos. Talvez em algum momento em sociedades, como a brasileira, compreendam que a chegada de migrantes é mais benéfica do que maléfica – e talvez, dívida sociocultural – ao país que recebe.

“Cobertura jornalística humanitária”
> ACNUR (2020)

Um dos materiais mais recentes e completos, o guia da ACNUR é destinado principalmente a profissionais e estudantes de comunicação e oferece um amplo aporte de mídia de forma educativa e propositiva. Alguns tópicos do sumário são: Legislações e acordos; recomendações de publicação; cuidado com as fake news; linguagem inclusiva; datas e materiais de referência e glossário.

Acesse o material aqui.

“Migrações, Refúgio e Apatridia: guia para comunicadores”
> IMDH, MigraMundo, FICAS (2019)

Em 40 páginas, o guia desenvolve um glossário, elenca organizações de referências e articulações nacionais e traz, de forma mais textual e amplificada um introdutório sobre o fenômeno e recomendações para reportagens em busca de “uma abordagem cidadã sobre as migrações”. Um material baseado nas experiências midiáticas realizadas integralmente no país, especialmente pelo trabalho desenvolvido no portal MigraMundo.

Acesse o material aqui.

“Comunicación sobre las migraciones”
> Oxfam (2018)

A publicação espanhola da organização social traz em seu material, além do caprichado desenho editorial, reflexões que dão ênfase às narrativas do senso comum e possíveis tratamento de imagens dentro do contexto migratório. Alguns desses “marcos” narrativos trabalhados são o da segurança como método de contenção, a pena, a invasão e a relação entre salvadores e salvos. Trata-se de um guia de caráter mais subjetivo e que auxilia na preparação mental do produtor de conteúdo.

Acesse o material aqui.

“Media Coverage on Migration: Promoting a Balanced Reporting”
> OIM (2017)

Em formato de relatório, as sugestões para a cobertura de mídia sobre migrações, o material explora a cobertura midiática e oferece algumas sugestões, como inserir no horário nobre “não apenas questões de travessia de fronteira e botes lavados na costa do Mediterrâneo, mas também questões sobre moradia, religião, emprego, e exemplos de artistas, profissionais e empresários de sucesso”. Outros projetos de iniciativas próximas e uma bibliografia de referência também são apresentados.

Acesse o material aqui.

“Migration Reporting Guidelines”
> Ethical Journalism Network (2016)

O pequeno guia apresenta 5 sugestões para uma melhor cobertura em migrações:

  1. Foco nos fatos e evitar os estereótipos
  2. Conhecer a lei
  3. Mostrar “humanidade” colocando as emoções no lugar da vitimização
  4. Eleger vozes representativas
  5. Desafiar o ódio

Acesse o material/card aqui.

“Guia das Migrações Transnacionais e Diversidade Cultural para Comunicadores”
> Denise Cogo/Maria Badet (Unisinos/CNPq)

Um dos primeiros materiais produzidos no Brasil sobre essa questão, as 100 páginas têm contributos de importantes teóricos da área e trazem um panorama amplos das migrações no país, dicas de fontes de pesquisa e recomendações de tratamento informativo às mídias.

Acesse o material aqui.

Guidelines for covering immigration
> L.A. Times (2013)

O jornal L.A Times, da cidade de Los Angeles (Estados Unidos) definiu em 2013 novos padrões para a cobertura jornalística sobre migrações em seu produto noticioso. Entre as diretrizes se encontram o debate sobre o termo “imigrantes ilegais” e a pessoalização do migrante (ao invés de he/she) na notícia.

Acesse o material aqui.

Outros materiais e fontes:

Fundación Gabo

Rede de Jornalistas Internacionais

OIM: ¿Cómo abordar la Migración en los Medios? 7 recomendaciones para periodistas

Crédito: ACNUR